04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sistema prisional através da transferência de recursos da União para os

estados, da construção de mais unidades penitenciárias federais; a

intensificação da militarização da segurança pública com a ampliação da

Força Nacional e o deslocamento das Forças Armadas para uma posição mais

ativa no “combate” ao crime. Na época, o então ministro da Justiça, depois

indicado ao Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, definiu como

prioritária a intensificação da guerra às drogas, protagonizando uma cena

bizarra em que, vestido de preto e com um facão na mão, cortava Cannabis

sativa numa plantação no Paraguai. Moraes chegou a anunciar que a

erradicação da maconha da América do Sul estava entre os principais projetos

de sua gestão.

Nas últimas décadas, a ideia da guerra como solução para o combate ao

crime tem se fortalecido. Agrada tanto a políticos como a grande parte da

população amedrontada das cidades brasileiras. Garante visibilidade e rende

imagens espetaculares que passam a mensagem de disposição das autoridades

para enfrentar os problemas. Homens fardados nas ruas também aumentam a

sensação geral de segurança a curto prazo. O problema, num primeiro

momento, fica restrito ao cotidiano dos moradores dos bairros afetados pelas

incursões policiais e pelos tiroteios. No dia 20 de fevereiro, quatro dias

depois de decretada a intervenção federal, a fala do ministro da Justiça,

Torquato Jardim, em entrevista ao Correio Braziliense, escancarou os ânimos

para a empreitada no Rio. Durante a conversa, o ministro explica a

necessidade de proteção jurídica para o militar do Exército que subiria os

morros. Descrevia, sem espaço para sutilezas, uma situação clara de guerra,

pontuando as especificidades do combate ao tráfico, que definia como

“guerra assimétrica”:

A guerra moderna não é a que lutamos em 1945, que você tinha terreno

inimigo, inimigo com uniforme, estruturado, com batalhão, pelotão,

companhia etc. Você não sabe quem é o inimigo, a luta se dá em qualquer

ponto do território nacional. Você não sabe que arma virá, não sabe

quantos virão. O seu inimigo não tem linha de comando longamente

estabelecida, tem duas ou três linhas e acabou. Você não tem um centro

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!