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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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torno da cúpula do crime. A pergunta óbvia era: quem matou os chefões do

PCC? Parecia evidente que o autor do crime tinha conhecimento privilegiado

do local onde os dois se encontravam e da rotina de ambos. Era, portanto,

gente de confiança. Não demorou para que fosse descartada a hipótese de que

“facções inimigas” seriam as responsáveis pelos assassinatos. As

especulações sobre a autoria continuariam a partir de conversas entre os

próprios integrantes do PCC. Poucos dias depois do homicídio, um bilhete

encontrado com uma visita na Penitenciária II de Presidente Venceslau foi

apreendido por um agente penitenciário. No papel amassado, as poucas linhas

manuscritas traziam uma versão para o crime:

Amigos aqui é o resumo do Pe quadrado [Penitenciária] e mais uns

irmãos. Ontem foram chamados em uma ideias, aonde nosso ir [irmão]

cabelo duro deixou nois ciente que o fuminho mandou matar os […] o GG

e o Paka. Inclusive o ir [irmão] cabelo duro e mais alguns irs [irmãos] são

prova que os irs [Gegê e Paca] estavam roubando.

O eventual descuido que permitiu a apreensão do bilhete por uma autoridade

penitenciária é notável e estranho. É possível pensar que por alguma razão se

tratava de uma mensagem que devesse ser divulgada. O bilhete apontava de

forma clara os responsáveis pela execução das duas vítimas e as razões do

decreto de morte. Confirmava ainda a hipótese de que teriam sido mortes

encomendadas de dentro do Partido do Crime, mas deixava em suspense a

origem da decisão. Se o bilhete responsabilizava os indivíduos de apelido

Fuminho e Cabelo Duro, não esclarecia por que decretar a morte dos dois exchefes.

O bilhete seria um termômetro para testar a reação dos criminosos

ligados ao PCC antes de esclarecer definitivamente o que teria ocorrido e de

onde teria partido a ordem para a execução dos chefões?

Nas normas que regem o funcionamento do PCC fica bastante claro o

imperativo da decisão colegiada em casos graves, como a decisão de matar

alguém. Se isso vale para o decreto de morte de qualquer irmão, vale ainda

mais para a decisão de matar duas das principais lideranças do PCC, que,

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