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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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estilete, na área reservada aos internos para exercícios de musculação. Dois

presos prontamente assumiram o crime, mas se negaram a revelar os motivos.

Restavam poucas dúvidas de que a decisão de dar o xeque-mate tinha vindo

de cima, já que o crime aconteceu no reduto do PCC, sob o olhar complacente

das principais lideranças. Mas havia uma dúvida importante. Marcola e os

outros doze presos que estavam na tranca dura foram consultados? Tudo

indicava que não. A morte do traficante de Diadema ocorreu três dias antes

de o grupo deixar o castigo no Regime Disciplinar Diferenciado. A

autoridade de Marcola podia estar sendo contestada, o que levaria a um grave

imbróglio político na cúpula do crime. Se isso de fato estivesse ocorrendo,

quem teria a ousadia de enfrentar a principal liderança do PCC?

Os promotores suspeitavam que as desavenças com Birosca haviam

começado meses antes, quando a mulher do traficante brigou com a

responsável pelo transporte de parentes de presos para Venceslau II. Depois

da confusão, segundo os promotores, Birosca havia sido excluído do Partido,

num processo liderado por Patrik Welinton Salomão, o Forjado, que era

ligado a Gegê do Mangue. Gegê era uma das novidades na dinâmica vivida

pela cúpula do PCC. Em dezembro de 2017, quando Birosca foi assassinado,

ele completaria dez meses do lado de fora das prisões. Conforme o tempo

passava, Gegê crescia em importância no Partido, com sua liderança

naturalmente se expandindo além das fronteiras. Ele vinha se movimentando

com desenvoltura entre compradores e fornecedores, transitando entre Ceará,

Paraguai e Bolívia. Conhecia em detalhes as redes e as rotas até então

utilizadas pelo PCC e aproveitava bem a condição de membro mais graduado

do grupo em liberdade para negociar pela facção. Em contrapartida, essa

autonomia dava margem a erros, que podiam ser vistos como traições ou

vacilos imperdoáveis.

O assassinato de Birosca na véspera de a cúpula sair do castigo indicava

que os executores poderiam ter se apressado para não aguardar o aval dos que

estavam isolados. A ousadia, sem dúvida, era uma afronta que exigiria

resposta. As acusações contidas no livro de Christino desacreditando a

postura ética de Marcola no crime e o próprio depoimento de Marcola

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