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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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do PCC. Segundo a denúncia, eles raramente prestavam assistência jurídica

aos integrantes do grupo.

A Operação Ethos acabou frustrando os planos de reestruturação do PCC.

A Célula R ou a nova Sintonia dos Gravatas, coordenada por Valdeci da

Costa, teria o papel estratégico de modernizar a gestão da empresa PCC,

criando uma coordenação de assessoria administrativa e jurídica e uma

auditoria nas contas do grupo. Era ainda fundamental driblar as dificuldades

na comunicação entre os membros do Partido, que vinham aumentando por

causa dos bloqueadores de celulares e do maior rigor do Estado no controle

da entrada de aparelhos nos presídios. Como diretor-presidente da nova

célula, Valdeci acompanharia de perto as receitas, salves, normas

disciplinares e benefícios concedidos pela facção e compartilhados

diariamente. Essa reestruturação já vinha sendo tocada. Nas planilhas

apreendidas, a organização contava com 1001 gerentes nas prisões,

encarregados de repassar cartas, regras e normas oficiais – nessa época, o PCC

caminhava para chegar a 20 mil membros no Brasil, sendo 7 mil em São

Paulo.

Os gerentes eram identificados por números para evitar que as autoridades

descobrissem seus nomes. A individualidade dos ocupantes desses postos,

aliás, nunca foi relevante no PCC. As constantes mudanças decorrentes de

transferências dentro e fora das prisões não podem abalar o funcionamento da

“empresa”. A cooptação de um integrante do Conselho Estadual de Defesa

dos Direitos da Pessoa Humana tinha o objetivo de produzir denúncias contra

o Estado e pressionar o governo, aproveitando-se da prerrogativa do

conselheiro para realizar vistorias nas prisões e elaborar relatórios sobre as

condições desses estabelecimentos. Segundo as investigações, Luiz Carlos

Santos recebia 5 mil reais mensais pelos serviços prestados ao grupo.

Qualquer entidade de direitos humanos encontrará violações nas prisões

paulistas sem forjar denúncias em troca de dinheiro ou de qualquer outra

coisa. A tentativa de infiltração no conselho foi um tiro pela culatra – deu

elementos para a criminalização das entidades, sugerindo ainda que para

denunciar a violação de direitos nas prisões de São Paulo seria preciso

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