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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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A situação começou a degringolar nas vésperas das Olimpíadas, em 2016,

quando a autoridade política do estado passou a derreter. Dois meses antes do

início dos jogos, o governo fluminense decretou estado de calamidade

pública diante do desastre nas finanças públicas, o que levaria o

funcionalismo, pensionistas e aposentados a não receber os salários de

outubro e o 13 o daquele ano. A crise política e fiscal do Rio foi se tornando

insustentável depois das Olimpíadas. Em novembro, o ex-governador Sérgio

Cabral foi preso pela Polícia Federal nos desdobramentos da Operação Lava

Jato. A autoridade estadual e o poder político das instituições foram

corroídos, como se as leis dos anos anteriores fossem suspensas –

principalmente para as quadrilhas armadas e endinheiradas do crime, que

vinham evitando confrontos e tentando faturar sem estardalhaço. Diante da

fragilização do poder estadual, facções, milícias e grupos criminosos

voltariam a disputar espaço, numa corrida para ver quem era o mais forte,

levando o Rio de Janeiro a alcançar em 2017 a maior taxa de homicídios em

nove anos.

Em Pernambuco e no Espírito Santo, essa mistura de corrosão da

autoridade política com novas dinâmicas criminais produziu efeitos

parecidos. Os dois estados nunca se caracterizaram pela presença ostensiva

de facções. A criminalidade e a venda de drogas costumavam ser tocadas por

pequenos grupos locais, que conviviam com comandos paulistas e cariocas,

sempre minoritários. Grupos de extermínio formados por policiais e

seguranças contribuíam para o acirramento das disputas. As ondas de

violência eram, acima de tudo, definidas por esses conflitos territoriais. A

entrada em cena de governos fortes politicamente e comprometidos com a

redução da criminalidade também induziu a mudança no comportamento dos

criminosos.

Em Pernambuco, por exemplo, a redução da violência no estado começou

logo no primeiro ano do programa Pacto pela Vida, em 2008, seguindo firme

por seis anos consecutivos. O programa reforçou departamentos de

investigação de homicídios, articulou o esforço de diferentes pastas e mesmo

de outros poderes, como Ministério Público e Judiciário, para enfrentar e

punir os matadores. A capacidade administrativa de Eduardo Campos, maior

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