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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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opressor. O termo “terrorista”, no linguajar criminal, tem valor positivo,

associado ao ladrão engajado, que tem consciência e sabe que, na verdade,

luta contra o sistema. Um dos apelidos recorrentes na cena criminal é Bin

Laden, e aparece em diversos estados brasileiros. É conferido, muitas vezes,

aos que manejam explosivos para roubar dinheiro em caixa eletrônico –

crime que se popularizou depois dos anos 2000. A vida no crime tem

características de um caminho suicida: jovens dispostos a arriscar a vida e a

liberdade, como se fossem homens-bomba prestes a morrer como heróis.

Alguns funks paraibanos também fazem referências ao cangaço e a seu

mais célebre representante, Lampião. “Sou guerreiro da Okaida, facção da

Paraíba, estilo de Lampião, nós derruba os paulistas.” Logo depois, na mesma

música, eles citam o líder terrorista do Onze de Setembro. “Que se diz o PCC,

mas aqui nunca invade, João Pessoa é tudo nosso, os soldados de Bin Laden.”

Entre as cerca de oitenta gangues contabilizadas pelos serviços de

inteligência do sistema prisional, exceção feita às do Rio de Janeiro e de São

Paulo, a maior parte surgiu há menos de uma década, para surpresa dos

analistas e estudiosos, que não foram capazes de antecipar o fenômeno.

***

As cenas estaduais do crime, antes relativamente delimitadas pelas fronteiras

regionais, se interligaram impulsionadas pela expansão do mercado de

drogas. A nova política penitenciária, ao mesmo tempo que ajudou os

governos estaduais a isolar e se livrar de seus presos mais perigosos, também

serviu para catalisar a nacionalização das redes criminais.

O Rio de Janeiro, por exemplo, solicita a transferência de todo e qualquer

preso que seja apontado como liderança de um grupo criminoso – milícia ou

tráfico –, e muitas vezes se nega a receber o preso de volta quando esgota o

lapso temporal definido para a permanência no Sistema Penitenciário Federal,

exigindo renovações contínuas que ferem a Lei de Execução Penal.

Evidentemente, essa postura gera problemas legais, políticos e

administrativos e explica por que muitos presos provenientes do Rio de

Janeiro estão no SPF há mais tempo do que o previsto em lei. É o caso, por

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