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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Alan. Nosso lado só tem braço, aqui só tem leão, vocês viram que o Ipê,

nós já colocou no chão. Didi botou foto no Face de fuzil e de pistola,

quando invadimo o Ipê, não durou nem meia hora.

Até os policiais acabam aderindo aos proibidões, como nas diversas versões

do “Funk do Bope”, com milhões de visualizações. Na introdução, um

narrador pergunta: “Você tem medo do lobo mau, do bicho-papão ou do boi

da cara preta? Vou lhe contar um segredo. Já mataram todos”. A música

então começa, com seu refrão chiclete: “Depois que convocaram o caveirão,

os bandidos estão bolados, estão bolados. Verdadeiros matadores de elite é o

Bope sanguinário, sanguinário”. Fotos de suspeitos mortos a tiros são

intercaladas com o símbolo da faca na caveira.

Nos campos para comentário abaixo desses vídeos se desdobra um bateboca

entre os simpatizantes de cada lado, que se ameaçam de morte e

defendem os valores de suas gangues ou grupos. Em comum, todos parecem

acreditar no papel central da violência e dos homicídios, como se esses

conflitos pudessem dar um norte a suas vidas.

Existem mais de 2,6 mil estabelecimentos penais no país, com mais de

740 mil presos, mais de sete vezes acima dos 90 mil do total em 1990. A

grande maioria dos presos não pertence às facções, mesmo quando sujeitos às

disciplinas e ordens internas estabelecidas por esses grupos. A construção de

milhares de novas unidades ergueu um mundo novo, uma espécie de distopia,

em que pessoas são confinadas em gaiolas insalubres com pouco espaço,

pouca comida. A passagem por uma dessas unidades costuma produzir uma

marca indelével, que cria estigmas e bloqueia os caminhos possíveis para um

futuro longe do crime. As prisões, em vez de recuperar, acabam assim

empurrando as pessoas para o crime.

As gangues se fortaleceram e se popularizam como a solução interna para

sobreviver nessa distopia. Ajudam a criar ordem num mundo de

confinamento. O sofrimento compartilhado entre aqueles que vivem esse dia

a dia fomentou a solidariedade e a adesão a uma ideologia do crime, como

um credo a pautar comportamentos e “procedimentos”, a ponto de alguns

grupos imitarem rituais religiosos para a filiação de novos membros.

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