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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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controle desses territórios. Isso pode ocorrer de forma oficial, nos chamados

autos de resistência, ou de forma extraoficial, por meio de grupos de

extermínio, presentes em muitas cidades brasileiras.

Na última semana de agosto de 2017, pelo menos 61 mortes aconteceram

em supostos confrontos de suspeitos com policiais, o que representa pouco

mais de 5% do total de homicídios. Nesses casos, segundo a versão

apresentada pelos policiais nas reportagens, os homicídios foram praticados

em legítima defesa, depois de serem recebidos a tiros pelos suspeitos. Muitas

dessas ocorrências são mal explicadas e levantam suspeitas de serem

simulações, dificilmente investigadas.

São casos como o ocorrido na madrugada de 21 de agosto, no município

de Pojuca, na Grande Salvador, quando dois homens foram mortos em um

suposto confronto com a polícia. Segundo a versão dos policiais, eles

receberam uma denúncia de que traficantes estavam vendendo drogas no

bairro Pojuca II. Eram três horas da madrugada de segunda-feira. Mesmo

assim, os policiais decidiram ir até o local do crime para fazer o flagrante e

acabaram matando Rafael França de Jesus, de dezenove anos, e William de

Santana Palma, de 21 anos.

Há ainda o mercado milionário da segurança privada, verdadeiras milícias

nos bairros conflagrados diante do medo daqueles que se sentem impotentes.

O desinteresse corporativo na investigação de milícias de extermínio mantém

esses grupos acobertados. As principais ações institucionais nos últimos anos

dependeram de investigações de policiais federais, atores ausentes das

corporações locais. Esses vigilantes, associados ou não aos policiais, se

tornam mais uma tirania na corrida ao topo da cadeia alimentar.

O resultado dessas disputas acaba sendo o conflito entre diversas tiranias

privadas, formadas por grupos ou indivíduos que disputam o poder ou

reagem à pretensão de dominação dos rivais. Uma crença comum os move

nessa guerra sem causas: a de que o homicídio é o principal instrumento para

o fortalecimento de seus grupos e para o enfraquecimento do grupo rival. A

população que vive nesses territórios é obrigada a aceitar calada os conflitos

entre as tiranias armadas, diante da incapacidade do Estado em exercer o

monopólio legítimo da força em defesa de regras iguais para todos. Essas

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