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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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A tolerância a esse tipo de crença acaba servindo como base para a

consolidação da lei da selva nas quebradas mais violentas, em que sobrevive

o mais forte. Esses bairros apresentam uma proporção de homicídios muito

acima da média do resto da cidade. Nesse ambiente, ser mais forte não

significa ter mais técnica, coragem ou habilidade. Basta estar disposto a

puxar o gatilho antes de ser morto.

Na manhã de sábado do dia 27 de agosto, no município de Caucaia, na

Grande Fortaleza, Daniel Silva de Abreu chegou de moto para matar os

adolescentes Francisco Breno Araújo Barbosa e Marcelo Moura Vieira, perto

da linha do trem. Horas depois, ele foi preso, com uma pistola e munições.

Na delegacia de Caucaia, afirmou aos policiais que matou os dois porque

vinha sendo ameaçado. Segundo o assassino, ele praticou o homicídio “antes

que pudesse sofrer algum atentado”. Quando o homicídio é tolerado, matar o

predador em potencial vira uma estratégia de sobrevivência, nos chamados

“homicídios de defesa”.

Essa crença compartilhada por indivíduos ou grupos de que os

assassinatos fazem parte de seu leque de escolhas cotidianas é o que produz o

efeito multiplicador. Conforme os crimes se repetem e os autores continuam

soltos, tiranias privadas vão se formando, como se indivíduos e grupos

disputassem uma corrida para ver quem chega ao topo da cadeia alimentar e

se torna o grande predador da selva.

Como as autoridades públicas não interferem, a violência provoca reação.

Cada assassinato tem a capacidade de produzir vinganças, promover novas

rivalidades, criando uma engrenagem que se retroalimenta. Os lucros e as

disputas do mercado são um dos incentivos para esses conflitos.

Em apenas uma década, entre 2005 e 2015, oito estados brasileiros

registraram crescimento acima de 100% nas taxas de homicídios de jovens

entre 15 e 29 anos. Os homicídios se disseminam como se fossem uma ação

contagiosa. O crescimento vertiginoso das taxas de assassinatos nas capitais

mais violentas, representado por gráficos que se assemelham a curvas de

epidemias, é uma das principais características do fenômeno da violência no

Brasil. O problema se agrava porque os policiais, muitas vezes despreparados

para lidar com a situação, passam também a matar para tentar exercer o

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