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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Nada que provoque comoção pública, manchetes nos portais ou discussões

nas redes sociais, como se fossem mortes esperadas e invisíveis.

Para entender como se movimenta essa engrenagem brasileira de

matanças, os autores deste livro ajudaram a criar o Monitor da Violência,

uma parceria com jornalistas do Portal G1 e com o Fórum Brasileiro de

Segurança Pública. A primeira missão do Monitor foi contar as histórias de

todas as mortes intencionais violentas do Brasil em uma semana. Foram 1 195

casos ocorridos entre 21 e 27 agosto de 2017, levantados por uma equipe de

mais de 230 jornalistas, num esforço industrial de apuração. Apesar da

imensa variedade de motivos por trás de cada uma das mortes, o que mais

chamou a atenção foi a grande quantidade de casos com características de

execução.

Sem muito alarde, logo no primeiro dia de apuração, na parte da manhã,

mais de cinquenta pessoas já haviam sido assassinadas. Conforme as horas

passavam, novos homicídios aconteciam de norte a sul do país, na média de

um caso a cada oito minutos.

Na noite de 24 de agosto, em Nísia Floresta, na Grande Natal, onde fica a

Penitenciária de Alcaçuz, Raul Victor de Carvalho Silva, um jovem de vinte

anos, foi morto a tiros enquanto dirigia sua moto. Ele foi perseguido por dois

garotos que estavam em outra moto e dispararam três vezes antes de fugir.

Independentemente dos motivos, os assassinos haviam decidido que Raul

deveria morrer. Depois, foram à caça e o executaram.

Nessas ocorrências com característica de execução, o autor chega ao local

do crime, sozinho ou em grupo, para matar o desafeto e depois fugir. Eles

agem, na maior parte das vezes, de noite ou de madrugada, quando não

existem testemunhas. O corpo costuma ser encontrado com furos de bala

apenas pela manhã.

A premeditação, o tempo para o autor calcular e pensar sobre o homicídio,

indica que, naquelas circunstâncias, ele enxergava, de fato, o assassinato

como um instrumento para resolver um conflito. Acreditava que essa era a

melhor solução para seu problema. Não se trata de loucura, irracionalidade,

abuso de drogas. Mas de uma crença de que, em certas ocasiões, dependendo

das circunstâncias, o assassinato pode ser a melhor escolha.

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