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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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dela sobre o filho, Jardel Lima dos Santos, de dezessete anos, aluno do

primeiro ano do ensino médio, que fazia aulas de futsal nos equipamentos da

prefeitura. Assim como em São Paulo, foi criado um movimento chamado As

Mães da Chacina da Grande Messejana, inspirado nas Mães de Maio, que

passou a organizar passeatas e debates sobre o crime. Jardel e Alef Souza

Cavalcante, outra vítima de dezessete anos, viraram nome de rua. O

Ministério Público e a polícia do Ceará, ao contrário das autoridades

paulistas, conseguiram identificar os culpados. Dois anos depois do crime, a

Justiça decidiu que 33 policiais militares seriam submetidos a júri popular.

A disposição da polícia para responder ao crime com violência mostra

fragilidade em vez de força. O ano de 2018 seguiu sem controle, com grupos

rivais se destruindo e apavorando os bairros. Na pior das ocorrências, catorze

pessoas foram mortas em janeiro numa casa de forró em Cajazeiras, periferia

de Fortaleza. As investigações apontaram para uma retaliação do GDE contra

os rivais do CV, que organizavam a festa. Oito das vítimas eram mulheres. A

conexão cadeia-quebradas produziria um efeito dominó dois dias depois,

quando dez presos foram assassinados na Cadeia Pública de Itapajé, a duas

horas de Fortaleza. Segundo as autoridades, eles seriam membros do PCC,

aliados do GDE, e foram mortos por integrantes do CV.

Essa rivalidade vazia, autodestrutiva e suicida, que se reinventa com o

passar do tempo, segue produzindo milhares e milhares de mortes todos os

anos. O grosso da violência são homicídios praticados a granel, em ruas

escuras, de madrugada, que ocorrem sem o estardalhaço dos massacres e

chacinas. São casos que quase nunca ficam isentos de desdobramentos.

Produzem revolta e desejo de vingança dos amigos dos mortos e têm um

elevado potencial de multiplicação. Em 1980, foram cerca de 14 mil

homicídios no Brasil. Atualmente, somadas, as mortes intencionais violentas

já totalizam mais de 60 mil por ano, como apontado anteriormente.

No geral, essa cena de violência é formada por homens que matam outros

homens e acreditam fazer a coisa certa ao praticar esses crimes. A maioria

das vítimas e autores é jovem, parda ou negra, moradora das diversas

quebradas do Brasil, quase sempre bairros pobres, de urbanização recente.

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