04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cena é banal, com garotões narcisistas, como outros de sua geração, cantando

para as câmeras de um big brother privado, feito por eles e para eles. À noite,

cerca de dez homens de um grupo rival chegam dentro de dois carros e

arrombam o portão da mansão, atirando contra os garotos que ainda estavam

na balada. Seis pessoas morreram. Um deles tentou pedir a um amigo que

chamasse a polícia durante o tiroteio. O áudio vazou e acabou sendo mixado

na letra de um rap feito por simpatizantes do CV celebrando o massacre.

No mesmo episódio, as imagens feitas por policiais que entraram logo

depois do crime foram usadas para criar um vídeo com objetivos

supostamente pedagógicos – pelo menos na cabeça dos policiais. As imagens

da festa na piscina, antes da chacina, que estavam nos celulares das vítimas,

foram mostradas ao lado da frase: “Tudo era alegria. Preocupação zero. Tudo

pago com dinheiro do crime. Mas o final foi dramático”. Aparece então a

imagem do Anjo da Morte e uma nova sentença: “Dorante [sic] o dia a farra.

A noite foi de muita bala”. Na sequência, são mostradas cenas do local do

crime e dos corpos ensanguentados. O vídeo acaba com uma mensagem

bíblica, com pontuação confusa, e a referência a um canal de informações da

polícia cearense: “O salário do pecado e a morte mais o dom gratuito de Deus

é a vida eterna com cristo. 190CE, mostrado que o crime não compensa”.

Naturalmente, 190 faz referência ao número do telefone da PM.

O espírito guerreiro dos policiais recebe o aplauso de muita gente. Se há

uma guerra em curso, afinal, por que apenas os inimigos podem atirar e

matar? Foi o que pensou um grupo de policiais em novembro de 2015 no

bairro de Messejana, em Fortaleza. Numa quarta-feira à noite, dia 11 de

novembro, um soldado foi morto a tiros ao reagir a um assalto. Nas horas que

se seguiram, onze pessoas foram assassinadas em bairros vizinhos, como

Lagoa Redonda, Curió e Comunidade São Miguel, num intervalo de três

horas e meia. Sete mortos tinham menos de dezoito anos. Outras sete pessoas

foram atingidas por disparos, mas sobreviveram. Algumas vítimas foram

mortas na rua e outras foram retiradas de dentro de casa para morrer.

O crime abalou os moradores do bairro. Nos dias que se seguiram, os

programas de tv tratavam os mortos como supostos traficantes. A mãe de um

deles telefonou para as redações e chamou os jornalistas para ouvir a versão

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!