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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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brincar com um integrante da facção, que afasta o menino com delicadeza. É

como se os cinco não fossem capazes de compreender a gravidade do que

estão fazendo, cegos, sem conseguir prever como aquelas provocações

poderiam acabar mal e determinar o futuro trágico e breve de todos eles.

A cultura do crime e das disputas entre gangues, fomentada nas prisões,

transcendeu as grades e os muros para chegar ao lado de fora, nas cidades

mais violentas. A conexão decisiva entre prisões e quebradas, que se

intensificou depois de meados dos anos 2000, acabou criando um novo

campo de interação entre jovens e adultos que transitam por esse mundo. O

espírito de soldados em guerra, em disputa por mercados e poder, que até os

anos 1990 parecia restrito aos integrantes dos grupos criminosos fluminenses,

acabou se replicando entre jovens brasileiros em diferentes quebradas.

Alguns desses guerreiros ostentam sua virilidade segurando revólveres, fuzis

e facões, competem pelos calibres das pistolas e prometem invadir territórios

inimigos, em vídeos e postagens que se tornam populares via WhatsApp e

Facebook. Essas encenações, contudo, não são meramente performáticas e

alegóricas. O que muitos cantam é a descrição da violência real do dia a dia

dos bairros onde moram.

No Ceará, a rivalidade entre jovens moradores de territórios vizinhos se

acirrou na última década. Depois das rebeliões nos presídios, ao longo de

2017, a situação piorou, apesar de o sistema penitenciário estadual não ter

testemunhado nenhum grande massacre. A conexão das cadeias com os

territórios organiza parte das oposições e rivalidades do lado de fora. O PCC,

que tem forte presença local pelo menos desde 2005, quando realizou o

assalto ao Banco Central de Fortaleza, se aliou aos Guardiões do Estado

(GDE), facção criada pelos criminosos cearenses em 2012.

Os paulistas souberam crescer sem melindrar os integrantes do GDE, que

passaram a travar batalhas com seus rivais do Comando Vermelho, aliados

dos amazonenses da Família do Norte. A facção cearense GDE não cobra

mensalidade de seus membros, que não têm a vivência histórica dos

criminosos paulistas. Parecem mais seduzidos pela luta por mercado e poder,

celebrando os conflitos e os namoros constantes com a morte como se fossem

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