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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Em março de 2018 foi anunciada a inauguração da quinta unidade, em

Brasília, mas não havia sinal de funcionamento efetivo até aquela data. Quase

uma década depois da abertura das quatro penitenciárias, pode-se dizer que o

ex-ministro da Justiça e o governo federal foram visionários. Na inauguração

de Catanduvas, Thomaz Bastos disse que aquele seria o “primeiro elo da

corrente de presídios federais que vão ajudar os estados a resolver seus

problemas”. O problema foram os efeitos colaterais inesperados resultantes

desse novo sistema prisional. O SPF funcionou como elo interligando

indivíduos, grupos e organizações criminosas de todos os tamanhos e lugares

do Brasil.

Nas palavras de um membro da Sintonia dos Estados e Países do PCC que

havia permanecido um ano em penitenciárias federais, o SPF era o “comitê

central do crime no Brasil”. Ele se referia ao fato de as unidades federais

reunirem presidiários dos mais variados estados e facções, oferecendo

oportunidade singular de estabelecer contatos, alianças ou rupturas. Em 2006,

reunidos no Presídio Federal de Catanduvas, Gelson Lima Carnaúba, o Mano

G, e José Roberto Fernandes Barbosa, o Pertuba, dois traficantes do

Amazonas, se associaram para formar a Família do Norte, com o objetivo de

fazer frente ao PCC e ao Comando Vermelho. Mais tarde, o grupo amazonense

se aliaria ao CV. A aliança entre os dois grupos foi fechada no Presídio

Federal de Campo Grande por Mano G e Caçula, que representava a facção

do Rio, conforme escutas de investigação da Polícia Federal. De volta para

cumprir pena em Manaus, Mano G conseguiu fugir em 2014, sendo

recapturado no ano seguinte no aeroporto de Natal. Passou um mês em

Alcaçuz e ali ajudou a organizar o Sindicato do Crime, que se tornou aliado

da Família do Norte e deflagrou a disputa com o PCC no estado.

Esse novo ponto de encontro proporcionado pelas prisões federais, espécie

de hub da criminalidade brasileira, se ampliaria a partir de 2009. A

movimentação das peças seria cada vez mais intensa e as redes que aí se

constituíam, mais complexas. O promotor Augusto Rossini, que entre 2011 e

2014 foi diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional, manifestouse

a respeito em um artigo incluído no livro Execução penal: diferentes

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