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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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O outro líder perguntou sobre o contato com o CV e sugeriu que o enviado ao

Rio de Janeiro o procurasse para deixar clara a posição dos paulistas:

não dando uma satisfação [ao CV], porque não devemos nada pra eles, mas

pra dizer [o seguinte]: “não temos inimizades com vocês, nem com o

Terceiro, nem com o ADA, é guerra de vocês, se vocês quiserem

intermediar uma paz estamos aí, porque o crime fortalece o crime, mas

estamos com as cadeias de portas abertas pra vocês, a situação de

negócios”.

O diálogo entre paulistas e cariocas continuou. Foram discutidos acordos

comerciais e interesses de cada parte. Em 18 de outubro, por exemplo, a

liderança do PCC presa em São Paulo pede para Teia verificar se ele arrumava

“algumas dessas [armas] no canal desses caras [ADA]”. Teia diz que

“daquelas que acerta helicóptero tem de penca, daqueles bagulhos que os

caras colocam nas costas, que vai buscar longe, o do Rambo, não tem como

contar”. Por outro lado, o PCC aproveitou a aproximação com a ADA para

entrar no mercado de drogas carioca através do fornecimento de crack. A

discussão das lideranças paulistas, contudo, passou a girar em torno da

capacidade de fornecimento do PCC. Um dos líderes diz a outro que “em vez

de mandar os meninos logo praí [Rio de Janeiro], tem que verificar o

progresso do Muito Louco [a compra e venda de crack]”. Teia diz que no

caso do Rio de Janeiro “só vão precisar brigar no preço, vou colocar no papel

para [líderes em São Paulo] entenderem, se for favorável, legal, senão, vamos

para outros horizontes”. A liderança paulista, cautelosa, novamente adverte:

“não pode dar o passo maior que a perna, pois se o cara pedir cem latas de

leite [cem quilos, que pode ser de pasta-base], agora, não tem para mandar”.

A postura do PCC na aproximação dos traficantes cariocas era tomar a

iniciativa no negócio, tendo como referência interesses econômicos e

oportunidades de mercado. Apesar de não disputar territórios no Rio de

Janeiro, os paulistas procuravam demonstrar envergadura na distribuição de

drogas para o mercado brasileiro e abrir canais para compra de armas.

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