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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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A relação com as facções cariocas sempre foi cercada de ambiguidades. A

despeito da aliança com o CV anunciada no primeiro estatuto, o PCC nunca

comprou a rivalidade com as demais facções ou se posicionou para fortalecer

o aliado nas constantes guerras pelo controle dos morros cariocas. A posição

anunciada por Geleião – de que essa briga não dizia respeito aos paulistas –

prevaleceu. Na primeira semana de outubro de 2010, Teia – na época o

homem de confiança da cúpula presa em São Paulo – viajou para o Rio de

Janeiro. Em conversa telefônica com uma das lideranças do PCC, ele contava

que vinha mantendo contato com integrantes da ADA: “o negócio é fora do

comum, o bagulho é chique, o irmãozinho [da ADA] é chapa quente […] não

consegui nem contar [armas] de tanto que tem”. Na sequência, Teia

conversava com outra liderança presa na mesma unidade e dizia que

“encontrou o rapaz [liderança da ADA], o rapaz é novo, mas é um rapaz

inteligente e tem uma ideologia da hora… barato é tipo o Iraque, Iraque não,

tipo Israel […]”. Na mesma ligação, Teia incluiu o interlocutor e o carioca

afirmou: “tudo tem a mesma caminhada do PCC, o morador precisa de gás,

remédio, cesta básica, tudo… Tudo que precisa, chega no amigo [líder local]

e é fortalecido”. Ainda na mesma conversa, uma terceira liderança da cúpula

do PCC reafirma a posição da facção quanto aos grupos, bem como a sua

pretensão:

nunca tivemos o pessoal da ADA como inimigo, tinha uma ligação com o

Vermelho [CV], mas quebrou em cima da arrogância dos caras. O intuito

de tudo é estar se unindo, se fortalecendo e um ajudar o outro… imagina

nós todos unidos? Nós também temos 65 favelas aqui [São Paulo], se

precisarem passar uma temporada, vai ser bem recebido. A gente está aí

não pra dividir o crime e sim para tentar unir e se fortalecer cada vez mais,

porque imagina [ADA] com um braço em São Paulo, [PCC] com um braço

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