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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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grupos sul-americanos, incomodados com o progresso e a capacidade de

organização dos paulistas. “O Brasil tem cartel, mas cada um com o seu em

cada estado. Quando precisa de reforço, o CV manda”, explica. O apoio do CV

vinha sendo solicitado com frequência cada vez maior. Segundo a liderança

do PGC, os paulistas já haviam bloqueado a ação de outras facções brasileiras

no Paraná, um dos estados mais importantes para o ingresso da droga no

Brasil e onde o PCC domina os presídios e o mercado. O próximo passo seria

bloquear Mato Grosso do Sul, o principal corredor do continente.

A liderança do PGC conseguia avaliar como as diferentes políticas penais

aplicadas nos estados desequilibrava as oportunidades no crime. Paulo

observou que as lideranças nacionais das outras facções acabavam em

desvantagem em relação aos paulistas, em decorrência dos longos períodos

que passavam no Sistema Penitenciário Federal (spf). Nessas unidades, a

comunicação era difícil, sobretudo para fora das cadeias, o que comprometia

a ação de facções como o CV e o PGC. “Por que só o Marcola não vai para o

presídio federal?”, ele repetiu várias vezes. “Me explica, por que todas as

facções têm os seus líderes no federal, menos o PCC?” Nem mesmo a

inclusão, em dezembro de 2016, da cúpula do PCC no Regime Disciplinar

Diferenciado (RDD), aplicado no Centro de Readaptação Penitenciária de

Presidente Bernardes, unidade paulista de segurança máxima, o convencia.

“Só vou acreditar quando o Marcola for para o Federal. Enquanto estiver em

São Paulo, não ponho fé.”

Por outro lado, a ausência do PCC paulista nos presídios federais acabou

favorecendo a confabulação entre as gangues regionais e o Comando

Vermelho, que viravam a referência mais próxima para os pedidos de ajuda

voltados a impedir a expansão do PCC. A movimentação de filiação dentro

dos presídios acabou criando uma tensão insuportável no sistema entre 2014

e 2017. Governos e autoridades se mantinham inertes, já que a informação

era mantida à distância dos holofotes da imprensa e ausente do debate

público.

Pelas sombras, sem publicidade, conflitos isolados e mortes começaram a

pipocar pelo Brasil. Na corrida armamentista, os rivais, como era de esperar,

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