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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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De acordo com esses planos, na sua primeira fase, a nacionalização do

“crime” seria alcançada através da coligação com o CV, e seus objetivos eram

políticos, baseados na pedra fundamental que dá origem ao PCC e gira em

torno da questão carcerária, sobretudo a luta contra os abusos, arbitrariedades

e injustiças do sistema prisional. A união dos presos seria condição

necessária para essas conquistas. A parceria ideológica entre PCC e CV,

contudo, nunca ocorreu. Tampouco o megaevento nacional no qual a

opressão carcerária seria denunciada. No dia 19 de fevereiro de 2002, uma

semana depois de ter escrito a carta e dias após sair do isolamento, Misael foi

cercado por cinco presos que chegaram pelas suas costas durante o banho de

sol na penitenciária paulista. Um cordão foi passado pelo seu pescoço, ele foi

derrubado no chão e espancado. Os algozes bateram repetidas vezes com um

rodo na sua cabeça. Em poucos minutos, o fundador do PCC foi morto por

traumatismo craniano e estrangulamento.

A ordem para o assassinato de Misael teria vindo justamente da cúpula da

organização que ele fundara e da qual fora um dos principais líderes durante

nove anos. Organização na qual Misael depositava seus sonhos e esperanças

de ser a porta-voz dos direitos dos presos, representante da população

carcerária, instrumento de luta política, busca por justiça, enfrentamento ao

sistema e ameaça aos poderosos. Era só o começo da disputa fratricida pelo

comando do PCC, que provocaria uma profunda reorganização em sua

estrutura, forma de funcionamento e objetivos. Dali em diante, os projetos de

nacionalização do Partido se distanciariam dos objetivos revolucionários

planejados por Misael e se tornariam parte de um projeto econômico dotado

de viés ideológico importante, mas diferente daquele expresso na carta escrita

pelo fundador do PCC. A equação entre o econômico e o político, duas

dimensões complementares na atuação da facção, nunca foi bem resolvida.

A carta de Misael para Cesinha destaca a importância da política de

transferências responsável por alocar, lado a lado, lideranças do PCC e das

duas maiores facções do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho e a Amigos

dos Amigos (ADA). Cesinha estava na ala do CV; Geleião, na ala da ADA. Essa

aproximação foi importante na conformação da relação do grupo paulista

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