04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

nacional dos criminosos, acirraram as disputas entre grupos varejistas e

lideranças prisionais. Um dos sintomas desses conflitos foi o crescimento dos

homicídios nas localidades onde o PCC tentava se firmar. A facção paulista foi

protagonista do desequilíbrio que aumentou a violência e promoveu disputas

a bala pelo poder em mercados locais. Entre 2004 e 2014, as taxas de

homicídios mais do que dobraram no Rio Grande do Norte, Maranhão, Ceará

e Sergipe. No Pará e no Amazonas, o índice quase dobrou. Esses estados

figuravam entre os menos violentos do Brasil nos anos 1980 e 1990.

Gangues regionais foram formadas e passaram a se articular no sistema

carcerário antes de se espalhar pelas quebradas. Houve alianças com gangues

parceiras, o que trouxe armamentos mais pesados para o cotidiano desses

lugares. O crime passaria a lidar com acordos constantes para definir aliados

e rivais. O racha do PCC com o cv produziu novos arranjos entre os grupos, o

que aumentou a instabilidade nos estados. Isso teve efeito no cotidiano das

cidades, assustando moradores antes livres desses problemas, principalmente

no Norte e no Nordeste.

O quadro colocou o país em uma posição incômoda, com mais de 60 mil

mortes violentas por ano, a maior taxa entre todas as nações do mundo. Esse

crescimento ocorreu mesmo com a melhora em indicadores sociais

importantes, como educação, renda e desigualdade. Os governos locais foram

pegos de surpresa diante dessa realidade. Despreparados, usaram os mesmos

remédios de sempre, aplicados sem sucesso na tentativa de controlar a

violência. Policiais militares foram novamente enxugar gelo nos territórios

suspeitos para encher as prisões de seus estados, numa reedição de guerras

contra traficantes. Depois de prisões e mortes, dado o lucro estratosférico do

setor, sempre havia outra quadrilha para ocupar o lugar vago. Inteligência e

estratégia para diminuir o poder de fogo e frear a capacidade de investimento

desses grupos, táticas de sucesso de polícias em todo o mundo, ainda deixam

a desejar no Brasil. As autoridades preferiram abusar da violência e do

voluntarismo do policiamento ostensivo, como se fosse outra gangue rival,

apenas um pouco mais armada e poderosa. Em vez de garantir o Estado de

direito, apenas aceleraram a engrenagem de homicídios.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!