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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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hierarquizadas nos morros cariocas. É essa parcela inferior, formada por um

pequeno exército de vendedores, mão de obra barata, despreparada e armada,

que concentra a maior parte da violência da extensa rede de tráfico de drogas.

A chegada do PCC às fronteiras, na esteira de Fernandinho Beira-Mar,

marca essa nova etapa das relações empresariais do crime. O PCC transforma

o cenário ao avançar como grupo disposto a organizar a cena criminal e atuar

como agência reguladora da atividade. A proposta de agir com diplomacia e

costurar uma ampla rede de parceiros, por mais que fizesse parte do discurso,

produziria inevitáveis embates com gente que ganhava dinheiro fazia anos na

região, caso de Jorge Rafaat.

“A fronteira é um lugar perigoso, um lugar dominado por narcotraficantes.

Um lugar de guerra”, afirmou Celsinho, outro membro da Sintonia Final dos

Estados e Países do PCC. A afirmação de Celsinho, em entrevista a um dos

autores deste livro, foi colhida numa penitenciária localizada na área da

fronteira sul-mato-grossense, onde cumpre pena por tráfico internacional de

drogas, homicídio qualificado, posse ilegal de armas e formação de quadrilha.

Antes disso, passou quase dez anos preso no Paraguai, onde cumpriu pena

por tráfico de drogas após ser detido pela polícia com mais de cem quilos de

cocaína pura escondidos num fundo falso de uma caminhonete em meados

dos anos 2000. Em 2014, foi extraditado para o Brasil. Aqui, já tinha

passagens por prisões de São Paulo e Minas Gerais desde o fim da década de

1990.

Celsinho, em 2005, foi acusado de planejar a morte do então juiz titular da

vara federal em Ponta Porã, Odilon de Oliveira, e também de ser um dos

mandantes do atentado ao senador paraguaio pelo Partido Liberal Radical

Autêntico (PLRA) Robert Acevedo, em abril de 2010. Nesse episódio, o

senador foi alvejado por dois tiros, e dois de seus seguranças foram

assassinados em Pedro Juan Caballero. Ao descrever a tensão nas fronteiras,

Celsinho sabe do que fala. Natural de Ponta Porã, sua trajetória pessoal e

criminal está vinculada aos negócios ilícitos da região, o que o credenciou

como peça-chave nas pretensões do PCC. Não deixa de ser irônico que uma

pessoa com a extensa ficha criminal de Celsinho defina a fronteira como local

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