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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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segurança, recebiam salários fixos. Parte do lucro era reinvestida na compra

de mercadorias e armamentos.

A opção pelo tráfico de drogas trouxe à organização capital de giro e

lucros suficientemente elevados para garantir a expansão. Na estrutura de

poder dos morros, existia o chefe, considerado muitas vezes “o dono da

comunidade”. Havia patrulhas organizadas que defendiam o território, e os

maiores negócios reuniam quinhentos homens trabalhando para o tráfico em

um mesmo morro. Abaixo do dono, intermediário dos fornecedores

internacionais, a estrutura do negócio tinha um gerente-geral, que coordenava

o trabalho dos “gerentes da maconha”, “gerentes da cocaína” e dos

“soldados”, encarregados da segurança. Esses “gerentes de mercadorias”

distribuíam para os “gerentes das pequenas bocas”, para os quais trabalhava o

“vapor”, que, por sua vez, distribuía diretamente ao varejo.

A geografia dos morros favorece a segurança das lideranças. Os

“olheiros” e os “fogueteiros”, jovens ligados ao tráfico, observam do alto a

movimentação na parte de baixo e anunciam eventuais invasões da polícia;

também faltam nos morros estradas de acesso que permitam a circulação de

viaturas, e as casas são dispostas entre becos e vielas estreitas, verdadeiros

labirintos e esconderijos.

Os donos do morro também acumulavam poder por meio da relação

clientelista com a comunidade, pagando remédios, auxiliando em

empréstimos financeiros, compras de botijões de gás, entre outros pequenos

favores. As coisas pareciam caminhar bem, mas, a partir de 1986, o CV

começou a se fragmentar internamente, e as disputas pelo controle de

territórios tornaram-se mais comuns e violentas. O crescimento dos conflitos

durante a segunda fase do tráfico deflagrou a crise. Traficantes mais jovens

disputavam o território dos mais velhos. Em meados da década de 1990,

outras facções haviam sido criadas, como Amigos dos Amigos, Comando

Vermelho Jovem e Terceiro Comando. Essa subcultura militarizada dentro

das favelas, com grupos fortemente armados em combate constante, forjaram

as cenas que marcariam o imaginário sobre o crime no Rio de Janeiro nos

anos que viriam. Agravavam o quadro as incursões policiais violentas nos

morros e a corrupção já amplamente disseminada nas polícias, fonte de

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