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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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PCC em Santa Catarina. Como a maioria dos presos membros de facções,

principalmente aqueles que detêm posição proeminente na hierarquia, ele

apresentava características que o diferenciavam da massa carcerária:

inteligência e capacidade de articular o raciocínio; conhecimento de seus

direitos básicos; compreensão ampla da conjuntura; poder de reflexão para

uma leitura da tragédia que se anunciava.

Os conflitos entre o PCC e o PGC já tinham história. Pelo menos desde

2009, o grupo paulista vinha buscando convencer os catarinenses da

importância do fortalecimento mútuo entre os criminosos. Para os criminosos

catarinenses, essa proposta de parceria exalava ares de arrogância e

dominação, como uma imposição do mais forte ao mais fraco. Dependia da

associação ao PCC, da adoção de suas regras e da incorporação dos criminosos

locais à rede que controlava o crime a partir dos presídios paulistas. Aquilo

que o PCC definia como uma relação de respeito e convivência foi aos poucos

se deteriorando, conforme o PGC resistia em aceitar o voraz apetite

expansionista dos paulistas. Não se sabe exatamente em que momento o PCC

estabeleceu um plano inequívoco de tomar Santa Catarina. O escoamento da

droga para o mercado externo pelo porto de Itajaí era motivo de disputa. A

briga por mercado e poder, contudo, não impedia o convívio entre os

integrantes dos dois grupos. A paz nos presídios vinha sendo preservada

mesmo com o crescimento das rivalidades regionais.

No presídio em Mato Grosso do Sul, Paulo reclamava das retaliações que

havia sofrido. Ponderava que já havia demonstrado respeito ao conviver por

cinco anos com os presos do PCC em outro presídio. Acabou surpreendido

pela eclosão dos conflitos violentos, mas foi retirado deles a tempo e teve a

sorte de sair ileso. Sentia-se desrespeitado como criminoso que sempre

acatou as regras do crime. O cumprimento de pena no seguro era, de novo,

uma situação humilhante. A nova condição criava espaços perigosos, com

armadilhas espalhadas por todos os lados. Em Mato Grosso do Sul, potenciais

inimigos do grupo de nove presos encurralados no seguro já haviam sido

expulsos do PCC. Paulo acreditava que os “ex-PCC” aceitariam a missão de

matá-los em busca de perdão e readmissão às fileiras do grupo paulista. Os

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