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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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copiado pelo PCC. Quase na mesma época em que a organização nascia, o

comércio de cocaína começava a se internacionalizar a partir dos cartéis

colombianos. O corredor de exportação da droga passava pelo Rio e por São

Paulo, o que facilitava a formação da rede que abasteceria o varejo desses

grandes centros. Fora das prisões, o CV aproveitou a oportunidade para

negociar cocaína e estruturar seus negócios. O tráfico era considerado uma

atividade mais segura e lucrativa do que os assaltos a banco. Afinal, em tese,

eram vendedores e seriam procurados e festejados por clientes em busca de

pó.

Mas antes era preciso tomar conta dos pontos de venda. Entre os anos de

1983 e 1986, o CV passou a dominar as bocas de fumo tradicionais dos

morros do Rio, administradas por pequenos traficantes das favelas que

trabalhavam principalmente com a venda de maconha. Os matutos que

transitavam pelas rotas de cocaína também importavam armas, permitindo ao

grupo preparar uma ofensiva que mudaria o mercado varejista de drogas do

Rio. Em 1985, o CV já detinha 70% de todos os pontos varejistas da cidade.

Além do uso da violência armada para dominar as bocas, os integrantes do CV

emprestavam armas e dinheiro para aliciar simpatizantes, financiando o

primeiro carregamento de cocaína dos novos funcionários, que assumiam os

pontos sob a bandeira coletiva da facção.

A ideologia inicial voltada ao sistema carcerário ficaria no passado, como

parte da história a ser narrada sobre a origem da facção. O CV passaria a

concentrar esforços na distribuição do varejo nos morros e na tensa relação

com as comunidades e o Estado, ausente nessas regiões – a não ser nas

incursões armadas e truculentas da polícia, que apavoravam a população

local, e no “arrego”, propina que os traficantes do varejo nunca deixaram de

pagar a policiais corruptos para não atrapalharem seus negócios. No modelo

de negócio das facções nos morros, a relação de poder era vertical, à maneira

de tiranias armadas com amplo aparato de força. Aqueles que ingressavam no

tráfico viravam funcionários e prestavam contas ao superior. A receita das

vendas era centralizada; os integrantes do grupo recebiam comissões

variáveis de acordo com as vendas; quando ocupavam postos relacionados à

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