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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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criminalizar a defesa dos direitos humanos. O discurso da guerra, como se a

sociedade estivesse dividida entre lados inimigos, ia ganhando força. Um

episódio emblemático que envolve o desembargador Ivan Sartori, do

Tribunal de Justiça de São Paulo, serviu como símbolo desse período. Em

setembro de 2016, quando o Massacre do Carandiru completava 24 anos, ele

absolveu os 74 policiais militares condenados no Tribunal do Júri pela

participação na morte de 111 presos em outubro de 1992. O massacre, como

já foi dito aqui, foi um dos motes da facção para arregimentar presos. Nos

dias seguintes, foram publicadas inúmeras críticas à decisão do

desembargador – numa delas, foi mostrada uma sentença de Sartori negando

liberdade a um homem acusado de furtar cinco salames. O homem alegava

fome, mas o desembargador afirmou que deixá-lo em liberdade implicava

riscos para a sociedade.

Diante da repercussão, o desembargador acusou a imprensa e entidades de

direitos humanos de estar ao lado do inimigo – os bandidos. Em um post,

Sartori escreveu: “Diante da cobertura tendenciosa da imprensa sobre o caso

Carandirú [sic], fico me perguntando se não há dinheiro do crime organizado

financiando parte dela, assim como boa parte das autodenominadas

organizações de direitos humanos”. O fantasma do Massacre do Carandiru

continuava a assombrar. A visão da guerra, que levou a máquina do Estado a

se voltar contra o inimigo, continuaria a funcionar. Seria preciso uma tragédia

de grandes dimensões para que o PCC e o sistema de segurança voltassem a

ser vistos de forma crítica. Era o começo de 2017. Cabeças foram cortadas e

corações arrancados pelo Brasil. O PCC mais uma vez era protagonista desses

eventos. A facção havia se espalhado pelo país, deixando de ser um problema

paulista. Talvez fosse tarde demais para se prevenir.

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