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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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vieram 76 cartas, a maioria de Presidente Venceslau II, onde se concentravam

as lideranças da facção. As mensagens se restringiam a denunciar os abusos

contra direitos de parentes e presos. Os autores mandavam nomes e números

no sistema. Como os remetentes eram de Venceslau II, contudo, houve dúvida

sobre a publicação. Muitas cartas continham trechos repetidos, o que indicava

a existência de um direcionamento sobre o que escrever. O autor do blog

decidiu pela publicação, considerando a falta de transparência do governo

sobre o que acontecia nos presídios.

Dois anos depois, veio a público que o PCC passou a mandar cartas para

outras pessoas e entidades como estratégia para denunciar os problemas

vividos pelos presos. Valdeci da Costa, o Ci, preso em 2006, estava por trás

dessa ofensiva política. Ele foi solto em 2015 e vinha mantendo contato com

pessoas de movimentos sociais, entidades de direitos humanos, grupos de

hip-hop, políticos, policiais, entidades cristãs e estudantes de direito para

defender os direitos dos presos. Ci também tinha a missão estratégica de

organizar uma estrutura de advogados para o Partido – a célula chamada de

Sintonia dos Gravatas. Ele foi monitorado quando estava em liberdade. As

escutas subsidiaram, em novembro de 2016, a Operação Ethos, que levou a

denúncia de quarenta advogados por suposta associação com o crime. Entre

eles estava o então vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos

Direitos da Pessoa Humana, Luiz Carlos Santos.

A ideia do PCC era se aproximar de entidades ligadas à defesa dos direitos

humanos e dos presos. Isso acabaria reforçando a artilharia daqueles que

associam a defesa dos direitos humanos ao apoio a bandidos e dando

munição para a perseguição política e criminalização dessas entidades. Tiro

pela culatra? Talvez. Ainda assim, grande parte das denúncias formuladas

pelo PCC não se descolava das violações de direitos gravíssimas e

historicamente denunciadas, sem sucesso, por diversos movimentos e

entidades. Ou seja, a princípio, as denúncias formuladas através do PCC

tinham respaldo em fatos, descritos em documentos oficiais e inspeções

prisionais, além de terem sido exaustivamente narrados por pessoas

encarceradas. Nesse sentido, haveria razão para desacreditar as denúncias

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