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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Rodrigues, grupo armado do Chile contra a ditadura de Augusto Pinochet.

Ambos conviveram por pelo menos um ano, entre 2002 e 2003 – primeiro no

Piranhão, em Taubaté, e depois no Presídio de Presidente Bernardes.

As lideranças criminais em São Paulo se aproveitavam dos abusos contra

a massa carcerária para dar legitimidade aos discursos do PCC. Como se fosse

a última chance de salvação. O Estado agia com ambiguidade: tolerava o

poder da facção nos presídios, mesmo não admitindo seu crescimento, e

tentava combater sem sucesso a facção do lado de fora. A falta de notícias

sobre o assunto depois de 2012 – a saída de Ferreira Pinto da Secretaria de

Segurança deu início a um novo período de relativa tranquilidade – ajudava

na sensação de que a situação melhorava. O número de homicídios seguia

caindo e a superpopulação prisional paulista não produzia rebeliões nem

fugas. Apenas a violência policial continuava batendo recordes – o que, para

o senso comum, não era problema, mas solução. As lideranças encarceradas

do PCC serviam aos interesses do governo e ao mesmo tempo tocavam o

projeto de expansão para o resto do Brasil e da América Latina, que

continuava a todo o vapor.

Descobrir o que estava ocorrendo e discutir de forma crítica a paz em São

Paulo era um desafio diante da falta de transparência do Estado e da lei do

silêncio nos bairros onde o PCC é mais forte. Para pesquisadores e jornalistas,

essa interdição produzia impasses. Como mostrar que a situação era diferente

daquela que o governo queria vender? Como fugir das fontes oficiais? Em

maio de 2014, quando um dos autores deste livro escrevia o blog SP no Divã,

no site do jornal O Estado de S. Paulo, diante da reclamação de presos e

familiares sobre as péssimas condições nos presídios, os presos foram

convocados a enviar cartas e contar o que acontecia lá dentro. “Homens e

mulheres que estão presos. Mandem suas cartas para decifrarmos a caixapreta

das prisões” era o título do post. O objetivo era discutir as condições

dos presídios e a necessidade de transparência na administração do sistema

penitenciário.

Primeiro chegaram quarenta cartas, a maioria de Tremembé I. Os presos

reclamaram das revistas humilhantes a parentes, da falta de água, médicos,

dentistas, trabalho, educação, do pouco espaço nas celas. Dois meses depois,

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