04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

vendo isso hoje na rua. O cara é bandido profissional, não é mais amador.

***

A aposta no patrulhamento territorial e nas prisões em flagrante cria uma

engrenagem de punição que favorece lideranças criminais encarceradas. A

Polícia Militar de São Paulo avançou na gestão de patrulhamento com novos

softwares e padrões de atendimento pelo 190 e aumentou sua capacidade de

efetuar a prisão em flagrante. Em 2002, por exemplo, prendeu dessa forma

mais de 92 mil pessoas. Quinze anos depois, em 2017, as prisões em

flagrante já ultrapassavam 150 mil. A probabilidade de praticar um crime e

ser pego pela polícia faz parte do cálculo dos criminosos, que apelidaram o

sistema penitenciário de “faculdade”. Como o PCC controla as regras entre os

muros de 90% das unidades prisionais paulistas, os presídios se tornaram

locais estratégicos para a cobrança dos desviantes. Obedecer às leis do lado

de fora se torna uma espécie de “seguro-prisão”, que permite ao preso “tirar

sua pena” com mais tranquilidade.

A partir de determinado ponto, em vez de reduzir o crime, o aumento do

número de presos produziu esse efeito colateral: o fortalecimento das

lideranças prisionais. A velocidade da engrenagem do aprisionamento em

São Paulo pode ser medida pelo próprio número de matrícula dos presos. A

primeira prisão de Marcola ocorreu em 1986. Quando ele ingressou no

sistema, recebeu o número de matrícula número 45 465. Em 2018, a matrícula

dos novos presos já ultrapassa a casa do milhão. Mesmo quando fica pouco

tempo atrás das grades, o indivíduo é estigmatizado como egresso, e

usualmente passa por dificuldades para conseguir emprego e teme as revistas

policiais.

Além de oferecer alternativa do lado de fora, os discursos do PCC focaram

o papel do crime na resistência a um “sistema opressor” que humilha e

oprime os pobres. A estratégia passou a ser trabalhada com mais força depois

dos ataques de 2006, ano de eleição presidencial. A tática de confronto em

larga escala contra o Estado foi deixada de lado diante da resposta do

governo estadual e dos policiais militares. A punição nas prisões endureceu e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!