04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

burocracia responsável pela disciplina, arrecadação e prestação de serviços.

Mesmo contribuindo nesse trabalho burocrático, cada participante pode

desenvolver atividades criminais autônomas, desde que não prejudique os

negócios da facção e se mantenha em dia com a mensalidade. Isso significa a

existência de um caixa que movimenta as receitas da facção e que vem

crescendo no decorrer dos anos. Segundo um levantamento do Ministério

Público paulista, esse total passou de cerca de 50 milhões de reais por ano em

2008 para 200 milhões de reais em 2016, um crescimento de 300%.

A filiação permite acesso à ampla rede de contatos do PCC e funciona

como selo de responsabilidade no crime – um bem valioso nesse mercado

cheio de incertezas. O movimento dos negócios pessoais dos “irmãos” foi

acompanhado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),

entre 2006 e 2012. Os resultados aparecem nas contas dos integrantes da

facção. Em sete anos, a movimentação das contas de seiscentas pessoas

ligadas ao PCC registrou um montante de 2,8 bilhões de reais, o que

representa uma média de 400 milhões de reais por ano – ou quase 700 mil

reais por pessoa.

Esses recursos aquecem a economia do estado e dos bairros pobres, já que

parte do dinheiro precisa ser lavada em nome de empresas de fachada. A

baixa capacidade das polícias em rastrear essa movimentação leva o dinheiro

do crime em volume cada vez maior à economia legal. Como a prioridade

continua sendo o patrulhamento territorial ostensivo e o enxugamento de gelo

na guerra cotidiana da Polícia Militar, o lucro do comércio ilegal continua

praticamente desconhecido das autoridades. Os efeitos, contudo, já são

percebidos pelos policiais que atuam nas ruas.

Um policial que trabalhava na Zona Norte de São Paulo contou, em 2016:

Hoje você não encontra mais bandido do PCC desempregado. Ele trabalha

num lava-rápido, numa loja, numa empresa de transporte, carro usado. O

cara tem carteira assinada. Se o cara é preso tem auxílio-reclusão, auxílio

do Estado (oferecido em caso de prisão para quem tem carteira assinada).

Ele está registrado numa empresa de fachada para lavar dinheiro. Quando

o cara é preso, vai a julgamento, ele diz “sou trabalhador”. A gente tá

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!