04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

constranger o governo paulista, insistente em afirmar que a facção não

existia.

Determinava o artigo 1: “Lealdade, respeito e solidariedade acima de tudo

ao Partido”. Já o artigo 7 mencionava a contribuição dos filiados: “Aquele

que estiver em liberdade ‘bem-estruturado’ mas esquecer de contribuir com

os irmãos na cadeia será condenado a morte sem perdão”. A maior parte da

primeira versão do estatuto valoriza a lealdade ao grupo e fala em nome da

“massa carcerária”. O documento foi importante ao despersonalizar a

organização e consolidar a ideia de uma instituição do crime voltada para

governar o submundo. Não importava a liderança da vez, pois uma

constituição havia sido criada para o crime, cabendo à figura abstrata do PCC

o resguardo dessas leis. As regras eram ditadas, copiadas em folhas de

caderno e compartilhadas nos presídios. O ritual de batismo ganhou

relevância. Não bastava ser do crime. Era preciso se converter à irmandade e

contribuir com o caixa e a burocracia de apoio aos presos.

Ao ingressar, o novo integrante ouvia os dezesseis artigos e jurava seguilos.

A história do PCC era contada e ex-integrantes mortos eram mencionados.

Como na conversão religiosa, o irmão batizado no PCC abandonava a

individualidade desregrada para abraçar uma vida em prol da coletividade

criminosa. Pode parecer exagero, mas essa estrutura foi fundamental para que

a instituição sobrevivesse à morte de suas lideranças. Dos oito líderes iniciais,

apenas Geleião continua vivo, apesar de jurado de morte e de ser responsável

pela criação de um grupo rival, o Terceiro Comando da Capital. Geleião

tentou destruir o PCC em 2003 ao entregar os nomes e as táticas das lideranças

à Justiça. Desde então, ficou relegado ao ostracismo, desmoralizado pela

disseminação da informação – que só circulou após a sua expulsão do PCC –

de que tinha uma condenação por estupro. Era jack e cagueta, portanto, sem

moral no crime. Geleião é o “troféu número um”, ou seja, ocupa o topo da

lista dos ameaçados de morte pelo Partido, e desde então cumpre pena no

seguro, junto daqueles execrados pelo mundo do crime.

O golpe e os rachas não foram suficientes para fragilizar a facção. Era

como se a estrutura e a ideia criadas em torno do grupo já transcendessem o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!