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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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entanto, que essa selvageria acontecia em nome do interesse coletivo.

“Eu cheguei [à prisão] na época da revolução. Não entrei no PCC por

simpatia, mas por revolução. A história foi feia”, explicou um ex-detento,

Fernando, em uma conversa em agosto de 2016. Nascido na Zona Norte de

São Paulo na década de 1970, Fernando cresceu em meio à violência e ao

tráfico nos anos 1980 e 1990. Foi preso em 1997 e ficou quase cinco anos no

sistema penitenciário, passando, de rebelião em rebelião, por oito presídios.

Com o tempo, ganhou a confiança dos líderes do Primeiro Comando da

Capital.

Antes do PCC, ele disse, dezenas de integrantes de facções diferentes

conviviam nas mesmas celas. Segundo o ex-detento:

Dormia todo mundo de olho aberto. Era muito ruim e desorganizado.

Tinham os infiltrados que caguetavam para o diretor. Tinha o malandrão

que comia a bunda dos humildes. Os caras chegavam da rua, novos, e eles

faziam isso daí. O Comando parou com isso. Foi quando a gente

conseguiu colocar a paz. Não foi só força, mas por lógica. Por que é que

eu vou ficar tretando com você se a gente está na mesma situação? Não

faz sentido.

A proibição da venda de pedras e celas fazia parte dessa política. A proibição

do crack dentro dos presídios, que afetava o interesse de diversos vendedores

de drogas, também foi aceita. A obediência à nova lei não estava associada

apenas à ameaça da violência pelo PCC para quem descumprisse as regras,

mas à compreensão de que interessava a todos a redução de conflitos

resultantes do uso abusivo das drogas e das dívidas consequentes. Havia uma

novidade política nos presídios e a autogestão dos presos começava a

produzir resultados surpreendentes.

Como relata o médico Drauzio Varella, que passou 28 anos como

voluntário de saúde no sistema penitenciário paulista, em seu livro

Carcereiros, o segundo da trilogia sobre o sistema paulista, composta por

Estação Carandiru e Prisioneiras:

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