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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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“assassinato fundador” do PCC no campeonato de futebol do Piranhão, em

Taubaté: quebrou o pescoço de um adversário, agarrando a cabeça da vítima

com as duas mãos e torcendo-a num gesto brusco.

Esse grupo de detentos se uniu com a pretensão de expandir sua influência

nos novos presídios que estavam sendo construídos. O Carandiru,

considerado “reduto de malandrões”, termo pejorativo que se referia aos

presos que humilhavam os mais novos, era um desafio importante. Em 1995,

o grupo já havia matado lideranças de quadrilhas antigas e ganhado força no

presídio. Aos poucos, regras novas seriam impostas. “Antes, as celas eram

negociadas a quinhentos, oitocentos reais. Tinha cela com doze pedras

[camas] onde morava dois. Quem tinha dinheiro, tinha tudo”, lembra

Eduardo, mandado para o Carandiru em 1998, acusado de diversos

homicídios nos anos 1990. Eduardo ficou preso até 2012. Ele virou

evangélico na prisão.

Tinha muita faca que os presos arrancavam das portas. Não podia ver um

ferro que fazia uma tirinha. Domingo não podia matar ninguém. Só na

segunda-feira, depois da visita. Era a Segunda sem Lei, resolvidas na

“Rua 10”. Os irmãos começaram a ver isso. Tava errado. De 1999 pra

2000 não podia mais vender cela. Depois parou de vender pedra pra

dormir. Se fosse pego, entrava na madeira [apanhava] quem comprou e

quem vendeu.

Era preciso que as novas regras chegassem aos novos presídios e às unidades

do interior e litoral. As rebeliões seguidas de transferências ajudaram a

acelerar o processo. Facas, serras e estiletes, chamados de “golias” ou

“canetas”, foram as armas mais usadas nas brigas entre os presos. As mortes,

cheias de simbolismo, assustavam e impunham medo aos inimigos. Ao

mesmo tempo, eram apresentadas como recurso em nome de novos tempos e

valores, de uma vida melhor dentro da cadeia. Os que resistiam e não aderiam

ao grupo, diziam os integrantes do PCC, eram mortos em nome de uma ordem

que representava os interesses da massa carcerária. O PCC exibia corações e

cabeças de inimigos para mostrar poder. A facção conseguia convencer, no

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