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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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mais inteligentes, as corregedorias se fortaleceram. Mesmo assim, a violência

oficial, praticada em supostos tiroteios, não parou de crescer. A razão é

bastante clara: o modelo de segurança pública, baseado no patrulhamento

territorial e nas incursões violentas e constantes aos bairros pobres,

permaneceu intacto. Cabe a esses policiais, como eles próprios reconhecem, a

arriscada tarefa de enxugar gelo.

O trabalho de inteligência e investigação, que permite compreender o

funcionamento das quadrilhas e estruturas criminosas – receptação,

distribuição, lavagem de dinheiro, identificação de contas bancárias, paraísos

fiscais –, seguiu desvalorizado. O espírito de guerra contra o inimigo bandido

continuava a dar sentido para as ações oficiais.

Os bairros pobres viram seus jovens morrer aos montes em ciclos

incessantes de violência. Essas cenas conflagradas estimulavam jovens a se

armar e fazer alianças para se proteger. Jovens vizinhos passavam a ser vistos

como rivais. Um único homicídio produzia vinganças e rivalidades que

duravam anos. Wolverine, colega de Flamarion e do grupo de matadores do

Grajaú, autor de homicídios e chacinas, explicava, em 1999, que era

praticamente impossível interromper esse ciclo:

Pra ele não me derrubar [matar], eu derrubo ele. A questão é essa. Por isso

não acaba uma treta. Sempre vai ter. Se eu não derrubar o cara hoje, os

caras vai me derrubar. E eu vou continuar derrubando, até um dia que eu

fale assim, parou. Só se eu morrer. Aí mano, morreu e não tem como

derrubar mais. Mas se eu morrer vão continuar derrubando. Os manos vai

pra cima pra cobrir a minha treta também. Não acaba. Nunca acaba.

Essas pequenas rivalidades davam o padrão da violência em São Paulo: uma

curva sempre em crescimento. Antes de 1960, os índices eram estáveis. A

capital nunca havia ultrapassado mais de dez casos por 100 mil habitantes.

Nos quarenta anos seguintes, contudo, diante da multiplicação dos pequenos

conflitos entre homens armados – jovens ligados ao crime, justiceiros e

policiais – as taxas de homicídios começaram uma escalada ininterrupta até

se multiplicar por dez e chegar ao ponto mais alto em 1999.

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