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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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ao longo dos anos 1980, quando o medo e a sensação de insegurança

aumentaram. A Rota seguiria em combate. De janeiro a setembro de 1981,

em nove meses, a Rota mataria 129 pessoas, mais do que todos os mortos em

sua primeira década de existência.

A violência contra os grupos suspeitos passou a nortear muitas ações,

inclusive dentro das comunidades pobres. O ódio ao crime e o medo

produziam tentativas improvisadas de proteção. Nos anos 1980, as quebradas

paulistas passaram a testemunhar a ação de justiceiros. Muitos deles eram

migrantes das zonas rurais brasileiras, cansados dos pequenos assaltos em

seus bairros. Eles passaram a matar para “limpar a área”, apoiados por

comerciantes e aplaudidos pela população local. Muitos agiam com a

conivência da polícia. Em São Paulo, o mais famoso deles foi o temido Cabo

Bruno, que atuou na periferia sul da região metropolitana e matou dezenas de

pessoas. Um dos costumes desses vigilantes era pregar listas com nomes de

“bandidos” jurados de morte nas padarias e mercadinhos desses bairros. A

intenção era dar uma última chance a eles de fugir antes da execução.

Chico Pé de Pato, outro famoso justiceiro que atuava na Zona Leste

bancado por comerciantes, recebeu apoio popular nos dias que se seguiram à

sua prisão, em 1985. A população da região do Jardim das Oliveiras, onde ele

atuava, foi protestar na frente do Fórum Criminal para pedir sua liberdade. A

prática do vigilantismo, longe de ser um fenômeno isolado, se replicou na

Grande São Paulo. Ao longo de toda a década de 1980, numa estimativa da

polícia, os justiceiros mataram cerca de mil pessoas.

Mesmo depois da volta de governos democráticos e da Constituição de

1988, que criou controles para combater os excessos oficiais, essa estratégia

de guerra contra o crime nos bairros pobres para proteger os locais mais

urbanizados e ricos continuou a estimular a violência e os homicídios das

polícias. Entre 1981 e 2005, as operações da PM em São Paulo produziram a

morte de 14 216 civis, uma média de 592 pessoas por ano. A absoluta maioria

dos mortos morava nas periferias pobres de São Paulo.

Após a redemocratização, a Polícia Militar aumentou a carga horária de

aulas de direitos humanos em seus cursos, o treinamento foi melhorado,

houve avanços na gestão do patrulhamento territorial, com softwares novos e

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