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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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do governo para proteger os moradores dos bairros mais ricos daqueles

suspeitos que viviam nesses rincões urbanos.

Extermínio, confinamento em massa e segregação territorial se tornaram

meios tolerados para a proteção contra os inimigos dos trabalhadores e

“cidadãos de bem”. Essa máquina de guerra também produziu injustiças,

homicídios, desordem, imprevisibilidade, raiva e revolta nos grupos vistos

com desconfiança pelo sistema – principalmente os jovens e pobres. O PCC

foi um dos efeitos colaterais inesperados desse sistema. A facção assumiu a

condição de representante dos inimigos, criando mecanismos de proteção e

organização desse mundo ilegal. Em 1960, por exemplo, houve oficialmente

um único óbito praticado pelas forças policiais. A investigação era a parte

nobre do trabalho – a Guarda Civil e a Força Pública faziam o policiamento

de rua. A prática do extermínio, contudo, já surgia como solução para o

crescimento do crime. O Esquadrão da Morte, por exemplo, criado em 1968,

que agiu sob a liderança do delegado Sergio Paranhos Fleury, atuava na

informalidade. Os números não apareciam nos registros oficiais, mas

estimativas indicam que cerca de duzentas pessoas foram mortas pelo

Esquadrão ao longo de dois anos. Fleury, apesar das provas e testemunhos

contra ele, em vez de ser punido, ascendeu na carreira durante a ditadura

militar e foi peça-chave no combate à guerrilha urbana a partir de 1969.

Naquele ano, a transformação da Força Pública em Polícia Militar mudou

a violência de patamar, assim como a forma de pensar e fazer policiamento.

A investigação e a Polícia Civil foram gradativamente esvaziadas. O

patrulhamento ostensivo se tornou o eixo estratégico de proteção das regiões

centrais, produzindo truculência policial em bairros pobres. Em 1975, os

casos de morte durante o policiamento subiram para 59 ocorrências. Esses

números dizem respeito somente aos homicídios ocorridos supostamente

durante ações oficiais da polícia, sem contar os extermínios extraoficiais.

As Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), criadas em outubro de

1970 para reprimir as ações guerrilheiras, depois se tornariam o terror das

quebradas. A disposição para o combate e a letalidade elevada eram suas

marcas principais. Da época em que foi criada até novembro de 1980, a Rota,

uma unidade com 720 homens, matou 110 pessoas. A situação se agravaria

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