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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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com debates dentro e fora das prisões. O processo só funcionou porque o

movimento veio de baixo para cima. Obedecer a essas autoridades formadas

em torno do PCC e colaborar com elas passou a fazer sentido diante dos

benefícios para quem vinha testemunhando violências brutais e cotidianas.

Como a polícia e os agentes penitenciários seguiam incapazes de garantir a

ordem e a lei nos bairros, o PCC foi se consolidando como mal necessário.

Em 2013, de acordo com os registros da própria facção que detalhavam os

filiados presos e em liberdade, apreendidos pelo Ministério Público Estadual,

o PCC tinha em São Paulo um total de 7,6 mil irmãos – 6 mil presos e 1,6 mil

em liberdade. Esse total significava que, na época, pertenciam ao grupo o

equivalente a apenas 2% da população dos presídios paulistas. Considerando

os irmãos do lado de fora, essa proporção era ainda mais insignificante.

Também havia dificuldades reais de comunicação interna e conflitos

recorrentes entre seus integrantes. Como se deu, então, esse processo de

empoderamento de uma gangue prisional que passou a governar e a mediar

os conflitos da cena criminal paulista?

A história de como o PCC se aproveitou das brechas nas políticas de

segurança pública implantadas em São Paulo, seus acertos, erros e omissões,

ajuda a compreender como esse processo se deu. Uma nova crença e um

novo discurso precisaram ser formatados na mente das pessoas que viviam

essa cena. A união contra o sistema opressor e violento, desde o princípio, foi

o mote principal da facção. O ódio à polícia era cultivado desde os anos 1970

por uma geração da periferia criada sem perspectivas de emprego e

testemunha da truculência dos agentes de segurança no dia a dia.

Com o processo desordenado de ocupação das cidades, a violência foi

uma ferramenta usada para tentar proteger a população urbana do crime e dos

“bandidos”. Esses novos personagens virariam bodes expiatórios das

metrópoles a partir de estigmas associados ao endereço (periferia, favela,

morro), classe social (pobre), cor da pele (negro), gênero (homem) e idade

(menos de 25 anos). Nas cidades que cresciam aceleradamente pelas bordas,

com loteamentos clandestinos, morros e favelas, o policiamento territorial

ostensivo – que coube aos policiais militares – se tornou a estratégia principal

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