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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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que aceitar uma resposta proporcional ao erro. “O meu vizinho foi autorizado

a dar dois tapas na cara do jovem, que aprendeu a lição”, contou essa

liderança.

Também pode acontecer de o solicitante não ser contemplado em suas

expectativas, depois de análise dos integrantes do debate. Na Zona Leste

paulistana, em 2016, educadores acompanharam o caso do pai de uma

menina de onze anos que pediu mediação do PCC depois que sua filha havia

transado com um jovem da região. Ele alegava estupro por causa da idade da

menina, legalmente considerada uma criança. O disciplina da quebrada

reuniu um grupo para ouvir os lados, apurar a verdade e decidir o que fazer.

O jovem acusado levou com ele fotos insinuantes que a menina vinha

mandando para ele no WhatsApp, tentando mostrar que houve consentimento

e que ele não tinha forçado a relação sexual. Ele ainda argumentava que não

sabia a idade da menina. Os juízes do crime avaliaram que o corpo dela já era

bem formado, como o de uma mulher, e que ela o havia provocado. A pena

para o jovem foi “deixar a quebrada”. Já a menina foi proibida de sair à noite

até os quinze anos. Para completo desgosto do pai, as fotos dela vazaram nas

redes sociais.

Até mesmo casos de linchamento passaram a receber a mediação da

facção. Em novembro de 2015, em Parada de Taipas, bairro pobre na região

da serra da Cantareira, em São Paulo, dois jovens foram linchados sob

acusação de assaltar pedestres no ponto de ônibus. Um morador derrubou o

assaltante da moto e começou a dar pauladas na dupla, sendo rapidamente

seguido por mais gente. Uma menina do bairro gravou a cena. O vídeo foi

compartilhado pelo WhatsApp. Nas imagens, um dos meninos, que

aparentava dezesseis anos, antes de morrer, chama pela mãe. O outro agoniza

por um tempo na rua.

A cena chegou ao disciplina da região, que passou a apurar o caso. Não

foi difícil identificar os participantes. A menina que gravou e repassou a cena

no WhatsApp, segundo dois moradores de Taipas, teve o dedo cortado. Um

dos meninos que faz piada com a agonia dos jovens linchados teve braços e

pernas quebrados. A voz de um dos traficantes do bairro, responsável pela

venda de drogas na quebrada, aparece no vídeo. Ele foi cobrado por omissão,

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