O Livro Negro dos Sentidos
Não é segredo para ninguém, nem a autocensura que se impôs sobre o corpo da mulher branca através dos tempos, nem o desrespeito pelo corpo e pela existência da mulher negra. Também não podemos fugir do racismo editorial que, numa sociedade igualmente discriminadora, está ainda representado por uma maioria avassaladora de escritores brancos. Por muito tempo nosso lugar de fala ficou na boca dos homens e, depois, a existência narrada das realidades de todas as mulheres foram contadas só pelas mulheres brancas. Por isso foi como um respiro ler O livro negro dos sentidos, a palavra saída da ancestralidade, brotada de uma cultura candomblecista que não culpabiliza o prazer. Convido vocês a viajarem pela força e pela delicadeza literária e honesta de nossa sacanagem. Elisa Lucinda _______ Organizado por Angélica Ferrarez, Jurema Araújo e Fabiana Pereira, O livro negro dos sentidos conta com contos, crônicas e poesias das seguintes autoras: Aira Luana Nascimento, Carmen Faustino, Vassia Valle Atriz, Conceição Evaristo, Dandara Suburbana, Debora do Nascimento, Helena Theodoro, Janete Santos Ribeiro, Jaque Alves, Juh de Paula, Lourence Alves, Luciana Luz, Luciana Palmeira, Maitê Freitas, Miriam Alves, Rosane Jovelino, Selma Maria da Silva, Sheila Martins e Taís Espírito Santo – além de textos também das organizadoras.
Não é segredo para ninguém, nem a autocensura que se impôs sobre o corpo da mulher branca através dos tempos, nem o desrespeito pelo corpo e pela existência da mulher negra. Também não podemos fugir do racismo editorial que, numa sociedade igualmente discriminadora, está ainda representado por uma maioria avassaladora de escritores brancos. Por muito tempo nosso lugar de fala ficou na boca dos homens e, depois, a existência narrada das realidades de todas as mulheres foram contadas só pelas mulheres brancas. Por isso foi
como um respiro ler O livro negro dos sentidos, a palavra saída da ancestralidade, brotada de uma cultura candomblecista que não culpabiliza o prazer. Convido vocês a viajarem pela força e pela delicadeza literária e honesta de nossa sacanagem.
Elisa Lucinda
_______
Organizado por Angélica Ferrarez, Jurema Araújo e Fabiana Pereira, O livro negro dos sentidos conta com contos, crônicas e poesias das seguintes autoras: Aira Luana Nascimento, Carmen Faustino, Vassia Valle Atriz, Conceição Evaristo, Dandara Suburbana, Debora do Nascimento, Helena Theodoro, Janete Santos Ribeiro, Jaque Alves, Juh de Paula, Lourence Alves, Luciana Luz, Luciana Palmeira, Maitê Freitas, Miriam Alves, Rosane Jovelino, Selma Maria da Silva, Sheila Martins e Taís Espírito Santo – além de textos também das organizadoras.
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Chegamos então ao Olhar — Ah, o voyeurismo nosso de cada
dia! Fiz essa seleção misturando os textos em que o desejo
parte desse ponto... de vista! É pelo olhar que os textos apresentam
o desejo, o tesão, e através dele vão trazendo os outros
sentidos. Às vezes um sorriso é tudo que precisamos para
enlouquecer. E a troca de olhares? Aquele olhar de “te quero
agora”, aquele olhar de posse que magnetiza o outro. Tem o
olhar de soslaio, aquele que desviamos quando o outro vira
a cabeça, tipo brincadeira de gato e rato. Então, quando nos
pegam com os olhos na botija, não podemos fazer nada além
de abrir um largo sorriso.
Por último é a explosão! Os textos misturam Todos os Sentidos,
que parecem em alerta para que haja o gozo maior, aquele
orgasmo.
É lógico que nada está tão separadinho nos poemas e contos
aqui explícitos, alguns são sutis. O tesão mexe com todos os
sentidos e, antes de tudo, com a nossa cabeça. É lá que ele
acontece e há conexão com todo o nosso corpo. Eu os organizei
de acordo com o que percebi ser interessantemente
marcado no texto. Podem discordar à vontade! Mas para mim
tem aquele sentido por onde o desejo passa e explode —
perceber qual é delicioso. Agora, poder transformar tesão em
arte é nos libertarmos de toda a prisão dos preconceitos e
estigmas que essa sociedade brancocêntrica nos encurralou.
Todas as vezes que uma escritora negra transforma em arte o
erótico, nós quebramos essas correntes nefastas do racismo
que tolhe seu corpo, reprime sua sexualidade e nos transforma
em objeto da cobiça do outro. Fazer do erótico poesia
é a retomada de poder sobre o próprio corpo e viajar sem
medo pelas delícias do desejo.
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