Monografia Sertões: Travessias
Monografia apresentada ao curso de Pós-graduação em Moda & Criação da Faculdade Santa Marcelina, para obtenção do título de Especialista em Moda e Criação (Ago/2021).
O Trabalho de Conclusão de Curso Sertões: travessias apresenta uma pesquisa e o desenvolvimento de uma coleção de moda feminina inspirada nos sertões do imaginário brasileiro oriundos da poética da literatura sertanista, em especial das obras de Grande sertão: veredas, Vidas secas e Morte e vida severina. Direcionada para mulheres com 40, 50, 60 anos ou mais, visa propor a reflexão sobre o envelhecimento feminino e a liberdade das mulheres contemporâneas em ser o que desejam.
As pesquisas e metodologias realizadas estão detalhadas na presente monografia, igualmente a criação e desenvolvimento da coleção, com estudos, croquis e looks confeccionados, que objetivam através da moda, resgatar e valorizar a cultura nacional, bem como o livre envelhecimento feminino.
Monografia apresentada ao curso de Pós-graduação em Moda & Criação da Faculdade Santa Marcelina, para obtenção do título de Especialista em Moda e Criação (Ago/2021).
O Trabalho de Conclusão de Curso Sertões: travessias apresenta uma pesquisa e o desenvolvimento de uma coleção de moda feminina inspirada nos sertões do imaginário brasileiro oriundos da poética da literatura sertanista, em especial das obras de Grande sertão: veredas, Vidas secas e Morte e vida severina. Direcionada para mulheres com 40, 50, 60 anos ou mais, visa propor a reflexão sobre o envelhecimento feminino e a liberdade das mulheres contemporâneas em ser o que desejam.
As pesquisas e metodologias realizadas estão detalhadas na presente monografia, igualmente a criação e desenvolvimento da coleção, com estudos, croquis e looks confeccionados, que objetivam através da moda, resgatar e valorizar a cultura nacional, bem como o livre envelhecimento feminino.
262 ENVELHECER:A PASSAGEM DO TEMPOA vida é um connuo processo deenvelhecimento, desde o nascimento todosseres vivos passam por fases deamadurecimento cronológico, biológico,psicológico e, no caso dos seres humanos,social. Há uma tendência de classificar oenvelhecimento como um estado e associá-lo a“terceira idade”, porém envelhecer é umprocesso de degradação progressiva que afetatodos os seres vivos (CANCELA, 2007). Vivenciarcada fase com naturalidade deveria ser inerenteaos indivíduos, entretanto a valorização emdemasia da juventude e a busca por prolongá-la,tem feito do envelhecimento algo a serretardado ao máximo, já que não pode serevitado.Guita Debert no argo Envelhecimentoe o curso da vida, contextualiza que a parr dosanos 70 os comportamentos caracterizados àcada faixa etária romperam e embaçaram asfronteiras das idades. A juventude, dissociadada faixa etária, foi transformada em um bem devalor que pode ser conquistado de acordo como eslo de vida (DEBERT, 1997). Se a juventudefoi transformada em um ideal atemporal, avelhice foi esgmazada. No mesmo argo,observa-se que a velhice como um período deperdas, abandono e ausência de papéis sociais,criou diversos estereópos negavos, quecontribuíram para o medo de envelhecer, masao mesmo tempo levou a legimação de direitossociais, como a universalização daaposentadoria (DEBERT, 1997). No meio destasfases, se encontra a vida adulta, o períodolibertário caracterizado pela autonomia, ondeprópria autora quesona esta suposta liberdadeao citar Jean-Pierre Bounet, psicossociólogoque entende a vida adulta ava pressionadapela juventude interminável e pelaaposentadoria precoce. (BOUTINET apudDEBERT, 1997).Entretanto, Debert defende a ideia deque a idade não é um marcador pernente aocomportamento e que o eslo de vida à frenteda idade vem transformando a sociedadecontemporânea:A tendência contemporânea é, no entanto, ainversão da representação da velhice como umprocesso de perdas e a atribuição de novossignificados aos estágios mais avançados davida, que passam a ser tratados comomomentos privilegiados para novas conquistasguiadas pela busca do prazer. (DEBERT, 1997,p.07)
272.1 Corpo e envelhecimento no BrasilA passagem da vida adulta para avelhice pode ser desafiadora quando observadapelos aspectos sicos e biológicos: o corpo belo,jovem e saudável, é desejado, muitas vezesperseguido e faz parte do ideal de juventudecomo eslo de vida. No Brasil, dissertar sobreenvelhecer tem como tópico fundamental ocorpo. Parte do valor cultural nacional, para aantropóloga Mirian Goldenberg, o corpo noBrasil é um capital:Além de um capital físico, o corpo é também umcapital simbólico, um capital econômico e umcapital social. No entanto, é preciso ressaltarque este corpo capital não é um corpo qualquer.É um corpo que deve ser magro, jovem, em boaforma, sexy. Um corpo conquistado por meio deum enorme investimento financeiro, muitotrabalho e uma boa dose de sacrifício.(GOLDENGERG, 2011, p. 78)Goldenberg reafirma a ideia do corpocapital como um meio de sucesso e contrapõeao corpo “natural” (entende-se aqui corponatural, como corpo que se modifica pela açãobiológica e do tempo, não corpo moldado pelaestéca vigente), que pode ser entendido comodesleixo (GOLDENGERG, 2012). Essa visão docorpo natural como descuido consigo mesmo,impacta diretamente na vivência e aceitação doenvelhecimento, em especial o feminino.Contudo, a longevidade no Brasil estáaumentando e é compreensível que a busca pormelhor qualidade de vida e vida ava, reflitamna busca por um corpo mais jovial, sobretudo nopaís onde o corpo faz parte da cultura. Segundoo Instuto Brasileiro de Geografia e Estasca –IBGE em 2019 a expectava de vida dosbrasileiros aumentou para 76,6 anos (73,1 anospara homens e 80,1 anos para mulheres), umcrescimento de 31,1 anos para ambos os sexosse comparado aos indicadores de 1940 (IBGE,26/11/2020).O aumento da longevidade e melhora nasaúde mundial estariam aumentando ameia-idade para além da sexta década de vida,de acordo com demógrafos europeus eamericanos em estudo publicados na revistacienfica PLoS One; estando correta a expressãode que os 60 anos seriam os novos 40 (CARELLI,O Estado de S. Paulo, 27/04/2015). Sendo assim,a população em geral sente-se de fato maisjovem fisicamente, psicologicamente esocialmente, se comparados a geraçõespassadas, convivendo mais e dando novossignificados ao processo de envelhecimento.
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2 ENVELHECER:
A PASSAGEM DO TEMPO
A vida é um connuo processo de
envelhecimento, desde o nascimento todos
seres vivos passam por fases de
amadurecimento cronológico, biológico,
psicológico e, no caso dos seres humanos,
social. Há uma tendência de classificar o
envelhecimento como um estado e associá-lo a
“terceira idade”, porém envelhecer é um
processo de degradação progressiva que afeta
todos os seres vivos (CANCELA, 2007). Vivenciar
cada fase com naturalidade deveria ser inerente
aos indivíduos, entretanto a valorização em
demasia da juventude e a busca por prolongá-la,
tem feito do envelhecimento algo a ser
retardado ao máximo, já que não pode ser
evitado.
Guita Debert no argo Envelhecimento
e o curso da vida, contextualiza que a parr dos
anos 70 os comportamentos caracterizados à
cada faixa etária romperam e embaçaram as
fronteiras das idades. A juventude, dissociada
da faixa etária, foi transformada em um bem de
valor que pode ser conquistado de acordo com
o eslo de vida (DEBERT, 1997). Se a juventude
foi transformada em um ideal atemporal, a
velhice foi esgmazada. No mesmo argo,
observa-se que a velhice como um período de
perdas, abandono e ausência de papéis sociais,
criou diversos estereópos negavos, que
contribuíram para o medo de envelhecer, mas
ao mesmo tempo levou a legimação de direitos
sociais, como a universalização da
aposentadoria (DEBERT, 1997). No meio destas
fases, se encontra a vida adulta, o período
libertário caracterizado pela autonomia, onde
própria autora quesona esta suposta liberdade
ao citar Jean-Pierre Bounet, psicossociólogo
que entende a vida adulta ava pressionada
pela juventude interminável e pela
aposentadoria precoce. (BOUTINET apud
DEBERT, 1997).
Entretanto, Debert defende a ideia de
que a idade não é um marcador pernente ao
comportamento e que o eslo de vida à frente
da idade vem transformando a sociedade
contemporânea:
A tendência contemporânea é, no entanto, a
inversão da representação da velhice como um
processo de perdas e a atribuição de novos
significados aos estágios mais avançados da
vida, que passam a ser tratados como
momentos privilegiados para novas conquistas
guiadas pela busca do prazer. (DEBERT, 1997,
p.07)