Monografia Sertões: Travessias
Monografia apresentada ao curso de Pós-graduação em Moda & Criação da Faculdade Santa Marcelina, para obtenção do título de Especialista em Moda e Criação (Ago/2021).
O Trabalho de Conclusão de Curso Sertões: travessias apresenta uma pesquisa e o desenvolvimento de uma coleção de moda feminina inspirada nos sertões do imaginário brasileiro oriundos da poética da literatura sertanista, em especial das obras de Grande sertão: veredas, Vidas secas e Morte e vida severina. Direcionada para mulheres com 40, 50, 60 anos ou mais, visa propor a reflexão sobre o envelhecimento feminino e a liberdade das mulheres contemporâneas em ser o que desejam.
As pesquisas e metodologias realizadas estão detalhadas na presente monografia, igualmente a criação e desenvolvimento da coleção, com estudos, croquis e looks confeccionados, que objetivam através da moda, resgatar e valorizar a cultura nacional, bem como o livre envelhecimento feminino.
Monografia apresentada ao curso de Pós-graduação em Moda & Criação da Faculdade Santa Marcelina, para obtenção do título de Especialista em Moda e Criação (Ago/2021).
O Trabalho de Conclusão de Curso Sertões: travessias apresenta uma pesquisa e o desenvolvimento de uma coleção de moda feminina inspirada nos sertões do imaginário brasileiro oriundos da poética da literatura sertanista, em especial das obras de Grande sertão: veredas, Vidas secas e Morte e vida severina. Direcionada para mulheres com 40, 50, 60 anos ou mais, visa propor a reflexão sobre o envelhecimento feminino e a liberdade das mulheres contemporâneas em ser o que desejam.
As pesquisas e metodologias realizadas estão detalhadas na presente monografia, igualmente a criação e desenvolvimento da coleção, com estudos, croquis e looks confeccionados, que objetivam através da moda, resgatar e valorizar a cultura nacional, bem como o livre envelhecimento feminino.
22meio, pertencem a elite intelectual que se sensibiliza eevidencia os sertões, mas que não vive a realidade local.Segundo esta abordagem, pode-se entender que parte daidendade construída dos sertões deve-se a visão que oexterior (o não-sertão) tem sobre ele.Porém Gilmar Ferreira, no livro digital Sertão Educa,observa que diferente da prosa literária, na poesia popular osertanejo tem lugar de fala sobre a sua visão de sertão, sejaem trovas, repentes ou cordéis, todas declamam ocodiano, contam suas experiências de vida e relações como mundo-sertão.O poeta do sertão é um educador do lugar. Sua poesiasensibiliza o humano para uma melhor compreensão sobre osertão. [...] desperta a consciência cultural dos que nãoconhecem o sertão para uma possível educação de respeito poruma terra onde habitam seres humanos simples, humildes, deuma cultura diversificada, expressiva e que faz da existênciauma comunhão com o mundo vivido. (FERREIRA, 2018, seção21)Seguindo este raciocínio, o papel do poeta descritopor Ferreira se aplica ao escritor literário, ambos cada qual asua maneira, despertam a consciência acerca dos sertõesem toda sua pluralidade, são todos educadores dolugar-sertão. Esta educação através da poesia, e tambémprosa literária, emerge da experiência do humano com olugar, seja ele pessoa que o vive ou pessoa que o descreve.Esta educação não tem meio nem fim, sendo um connuofazer e refazer da existência um novo aprendizado(FERREIRA, 2018).A escrita, seja poesia ou prosa, criava ou realista,culvam a poéca do universo dos sertões, criam a míscaem torno do lugar e contribuem para formação daidendade sertão-nação e promoção da cultura nopensamento popular. A poéca do codiano, traz a luz afrugalidade e o ser simples. Simplicidade que está presentena sobriedade e austeridade da paisagem, na genuinidade emodésa do sertanejo, na espontaneidade e franqueza dalinguagem, na naturalidade e parcimônia da escrita e nacandura e singeleza idealizados no imaginário brasileiro. Abeleza da simplicidade são aspectos dos sertões poécosque o presente projeto deseja resgatar, como inspiraçãopara conceito e estéca da coleção.
231.2.2 Tempo, travessia e pensamentoA relação de tempo nos sertões se assemelha com oespaço, por isso tempo-espaço nos sertões são percebidoscomo sem fronteiras. Assim como o sertão de GuimarãesRosa é sem lugar, o sertão de João Cabral é caminhante e deGraciliano Ramos atemporal. A concepção de que nossertões existem em um tempo próprio, tempo “congelado”em relação ao tempo urbano, faz reconhecer os sertõesliterários modernistas como parte dos sertões de hoje emdia.Quiçá seja o tempo dos sertões o período de umatravessia, que pode ser um deslocar-se na paisagem comoSeverino que peregrina para a cidade, ou vivenciar um ciclocomo Fabiano e família resisndo a fase das secas, mascertamente é uma travessia pela vida, o tempo de viver,refler e reconhecer a própria existência, como Riobaldo seconfrontando com a própria história.O tempo que não se mede, acontece no lugar ondenão se limita. O tempo-espaço sertão é imensidão noimaginário brasileiro, é no pensamento social que todos ossignificados, dualidades e possibilidades dos sertões sefundem e ganham força. “Sertão. Sabe o senhor: sertão éonde o pensamento da gente se forma mais forte do que opoder do lugar.” (ROSA, 2001, p.41).Os termos “pensamento social” bem como o“imaginário popular” estão longe de ter uma definiçãoobjeva, pois são processos connuos de desenvolvimento.Nesta pesquisa o conceito de pensamento social, segue oraciocínio de Lilia Moritz Schwarcz e André Botelho, quereconhece o caráter muldisciplinar do termo e o idenficacomo a constuição social das ideias de sociedades ougrupos sociais e suas estruturas diversas: antropológicas,polícas, sociológicas, filosóficas, literárias entre outro, mastambém culturais e simbólicas (SCHWARCZ; BOTELHO,2011).Para imaginário popular, ulizamos da versãopolissêmica de Carlos Augusto Serbena:Na falta de uma denominação precisa, pode-se dizer que esteaspecto forma o campo do imaginário, de um modo geral,formado pelas imagens, símbolos, sonhos, aspirações, mitos,fantasias, muitas vezes pré-racionais e com forte conotaçãoafetiva que existem e circulam nos grupos sociais. (SERBENA,2003 p. 02).
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1.2.2 Tempo, travessia e pensamento
A relação de tempo nos sertões se assemelha com o
espaço, por isso tempo-espaço nos sertões são percebidos
como sem fronteiras. Assim como o sertão de Guimarães
Rosa é sem lugar, o sertão de João Cabral é caminhante e de
Graciliano Ramos atemporal. A concepção de que nos
sertões existem em um tempo próprio, tempo “congelado”
em relação ao tempo urbano, faz reconhecer os sertões
literários modernistas como parte dos sertões de hoje em
dia.
Quiçá seja o tempo dos sertões o período de uma
travessia, que pode ser um deslocar-se na paisagem como
Severino que peregrina para a cidade, ou vivenciar um ciclo
como Fabiano e família resisndo a fase das secas, mas
certamente é uma travessia pela vida, o tempo de viver,
refler e reconhecer a própria existência, como Riobaldo se
confrontando com a própria história.
O tempo que não se mede, acontece no lugar onde
não se limita. O tempo-espaço sertão é imensidão no
imaginário brasileiro, é no pensamento social que todos os
significados, dualidades e possibilidades dos sertões se
fundem e ganham força. “Sertão. Sabe o senhor: sertão é
onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o
poder do lugar.” (ROSA, 2001, p.41).
Os termos “pensamento social” bem como o
“imaginário popular” estão longe de ter uma definição
objeva, pois são processos connuos de desenvolvimento.
Nesta pesquisa o conceito de pensamento social, segue o
raciocínio de Lilia Moritz Schwarcz e André Botelho, que
reconhece o caráter muldisciplinar do termo e o idenfica
como a constuição social das ideias de sociedades ou
grupos sociais e suas estruturas diversas: antropológicas,
polícas, sociológicas, filosóficas, literárias entre outro, mas
também culturais e simbólicas (SCHWARCZ; BOTELHO,
2011).
Para imaginário popular, ulizamos da versão
polissêmica de Carlos Augusto Serbena:
Na falta de uma denominação precisa, pode-se dizer que este
aspecto forma o campo do imaginário, de um modo geral,
formado pelas imagens, símbolos, sonhos, aspirações, mitos,
fantasias, muitas vezes pré-racionais e com forte conotação
afetiva que existem e circulam nos grupos sociais. (SERBENA,
2003 p. 02).