História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias
Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.
José Petrúcio de F. Junior, Ana Paula C. Castro, Igor Henrique P. de Sousapartir de provocações construídas pelo professor que estimulem a mobilização de diferentesconteúdos, tal como defende Fazenda:Considerando-se integração como um momento de organização e estudo dosconteúdos das disciplinas, como uma etapa para a interação que só podeocorrer num regime de coparticipação, reciprocidade, mutualidade (condiçõesessenciais para a efetivação de um trabalho interdisciplinar) [...] (FAZENDA,2011, p. 46, grifos nossos)Fazenda ressalta que a ‘integração’ e a ‘interação’ são palavras-chaves para aconstrução de projetos interdisciplinares eficazes. O diálogo com as fontes sempre é marcadopela interdisciplinaridade. Essa já é uma característica importante para a construção doconhecimento histórico acadêmico, logo não seria diferente com a produção doconhecimento histórico escolar. Nos museus, a História promove um rico diálogo com aGeografia, com a Arte, com a Língua Portuguesa, com a Filosofia, com a Sociologia, com aArqueologia, porquanto tais áreas podem lançar diferentes luzes ao entendimento da funçãosocial dos artefatos e da cultura na qual estavam inseridos. Para Bittencourt:O importante é saber explorar historicamente qualquer “lugar”, fazer umdirecionamento do “olhar” do aluno, levando-o a entender o que são fonteshistóricas não escritas: as construções, os telhados das casas, o planejamentourbano, as plantações, os instrumentos de trabalho, as informações obtidaspela memória oral de pessoas comuns. As marcas do passado são as fonteshistóricas que se transformam em material de estudo (BITTENCOURT, 2009, p.280).Reiteramos, no entanto, que um projeto educacional comprometido com a formaçãode cidadãos críticos deve se apartar de uma abordagem que concebe o passado sob umaótica uníssona ou homogênea, o que leva à produção de reducionismos ou perspectivassimplificadoras. As exposições museológicas externam um ‘discurso’ sobre o passado; estenão é desprovido das intencionalidades de quem o construiu. Os objetos musealizadoscompõem uma versão ou ponto de vista sobre o passado que deve ser indagado,problematizado pelos sujeitos/público, como afirmamos no tópicos anterior.90
O Museu Ozildo Albano como espaço de práticas educativasEsse exercício de reflexão possibilita aos discentes considerar não só o ‘dito’, ou seja, aforma como os discursos nos são apresentados – sua materialidade, mas principalmente o ‘nãodito’,isto é, as informações que intencionalmente foram silenciadas a fim de que o passadoconstruído satisfizesse aos interesses de grupos ou instituições responsáveis por fabricá-los.Logo, a construção de um espaço de memória é resultado de um jogo dedisputas e seleções, que tende a veicular e tornar hegemônica uma memóriaem dentrimento de outras. [...] Ao lidarmos com a memória como campo dedisputas e instrumento de poder, ao explorarmos modos como memória ehistória se cruzam e interagem nas problemáticas sociais sobre as quais nosdebruçamos, vamos observando como memórias se instituem e circulam,como são apropriadas se transformam na experiência social vivida. Noexercício da investigação histórica por meio do diálogo com pessoas,observamos, de maneira especial, modos como lidam com o passado e comoeste continua a interpelar o presente enquanto valores e referências. Trabalharnessa direção nos coloca diante da problemática do sujeito e da consciênciasocial na história, levando-nos a retomar e ampliar leituras e a aprofundar aspesquisas e reflexões, sempre dentro da perspectiva de construir umconhecimento histórico que incorpore toda a experiência humana e no qualtodos possam se reconhecer como sujeitos sociais (KHOURY, 2004, p. 118).Deduz-se que, em geral, os grupos que ocupam diferentes espaços de poder são osresponsáveis pelo ‘ocultamento’ de narrativas sobre o passado que não os favoreçam.Mostrar aos alunos a dinâmica desses jogos de poder compreende demonstrar a eles quedevemos ir além da superficialidade dos discursos tal como nos são apresentados e osmuseus, como espaços educacionais, podem cumprir esse papel, desde que os professoresestejam aptos à construção de situações de aprendizagem sob essa perspectiva, por issoressaltamos a importância da cooperação entre museus e escolas para elaboração de planosde ensino que envolvam a visitação aos museus.Diante disso, não é aconselhável, no âmbito do ensino de História, construir projetoseducacionais, centrado em museus e na produção de memórias, sem contemplar as relaçõesde poder que permeiam as narrativas sobre o passado. Afinal,Estudar as memórias fortemente constituídas, como a memória nacional,implica preliminarmente a análise de sua função. A memória, essa operaçãocoletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que se quer91
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José Petrúcio de F. Junior, Ana Paula C. Castro, Igor Henrique P. de Sousa
partir de provocações construídas pelo professor que estimulem a mobilização de diferentes
conteúdos, tal como defende Fazenda:
Considerando-se integração como um momento de organização e estudo dos
conteúdos das disciplinas, como uma etapa para a interação que só pode
ocorrer num regime de coparticipação, reciprocidade, mutualidade (condições
essenciais para a efetivação de um trabalho interdisciplinar) [...] (FAZENDA,
2011, p. 46, grifos nossos)
Fazenda ressalta que a ‘integração’ e a ‘interação’ são palavras-chaves para a
construção de projetos interdisciplinares eficazes. O diálogo com as fontes sempre é marcado
pela interdisciplinaridade. Essa já é uma característica importante para a construção do
conhecimento histórico acadêmico, logo não seria diferente com a produção do
conhecimento histórico escolar. Nos museus, a História promove um rico diálogo com a
Geografia, com a Arte, com a Língua Portuguesa, com a Filosofia, com a Sociologia, com a
Arqueologia, porquanto tais áreas podem lançar diferentes luzes ao entendimento da função
social dos artefatos e da cultura na qual estavam inseridos. Para Bittencourt:
O importante é saber explorar historicamente qualquer “lugar”, fazer um
direcionamento do “olhar” do aluno, levando-o a entender o que são fontes
históricas não escritas: as construções, os telhados das casas, o planejamento
urbano, as plantações, os instrumentos de trabalho, as informações obtidas
pela memória oral de pessoas comuns. As marcas do passado são as fontes
históricas que se transformam em material de estudo (BITTENCOURT, 2009, p.
280).
Reiteramos, no entanto, que um projeto educacional comprometido com a formação
de cidadãos críticos deve se apartar de uma abordagem que concebe o passado sob uma
ótica uníssona ou homogênea, o que leva à produção de reducionismos ou perspectivas
simplificadoras. As exposições museológicas externam um ‘discurso’ sobre o passado; este
não é desprovido das intencionalidades de quem o construiu. Os objetos musealizados
compõem uma versão ou ponto de vista sobre o passado que deve ser indagado,
problematizado pelos sujeitos/público, como afirmamos no tópicos anterior.
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