História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias
Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.
Alexandre Rodrigues de Souza, Jacqueline Sarmientointerpretá-la não é só um atributo do professor. Desde aqui é possível fazer um convite paraa participação. É importante também gerar uma abertura nas formas de ensinar e aprenderhistória.O objeto e os espaços como provocaçãoComo vincular as práticas de ensino de história com a materialidade e, finalmente,com a nossa corporeidade? Quando pensamos na materialidade o primeiro que se apresentadiante de nós é o mundo dos objetos, as coisas. Usamos objetos, os vestimos, pagamos poreles, os trocamos, os jogamos no lixo. Estamos tão profundamente imersos numa trama deobjetos, que raramente refletimos acerca deles. Pensamos menos ainda sobre a própriamaterialidade e nossas formas de interagir com objetos em contextos espaciais bemdiferenciados.A impossibilidade de pensar os seres humanos fora dos seus contextos tem levado aantropologia a dizer que a cultura é a natureza humana. A pensar-se que a cultura, segundoClifford Geertz, é uma teia de significados feita pelo homem, refletir acerca dos objetos (enossas relações com eles) requer entender a funcionalidade e significados sociais emdiferentes contextos (GEERTZ, 2008, p. 4). Geertz afirma que o pensamento humano é tantosocial como público e, neste caso, perpassa pelo ambiente natural, citando como exemplo opátio familiar, o mercado e cidade. Os símbolos significantes como gestos, desenhos eobjetos devem ser usados para impor um significado à experiência (GEERTZ, 2008, p. 33).Se o significado é produto da relação entre objeto e contexto, este muda tanto quantofaz a relação. Desde aqui se pode falar em uma biografia das coisas, de sua história através doscâmbios que atravessa sua existência (poderíamos inclusive falar de objetos que têmsucessivas e longas vidas) (APPADURAI, 1991). Quando os objetos ingressam ao museupassam a outra fase da sua vida com a particularidade de serem afastados de seu contexto deuso. Francisco Lopes Ramos aponta questões importantes sobre a relação entre objetos,museus e história. Dentro do espaço do Museu, o objeto adquire novo conjunto de significados704
Objetos, corpos e espaços patrimoniais no ensino da História da América Coloniale sentidos. Os objetos museológicos precisam ser questionados com objetivo de ampliar o“sentido crítico sobre o mundo que nos rodeia”. O autor lembra também que ao tornar-se peçado museu, os objetos entram em uma “reconfiguração de sentidos” (RAMOS, 2004, p. 21-29).É preciso notar que o eixo de estar rodeados de objetos e interagir continuamente comeles, não significa que compreendamos a linguagem dos objetos. Nas palavras de LopesRamos, “se aprendemos a ler palavras, é preciso exercitar o ato de ler objetos, de observar ahistória que há na materialidade das coisas”. Com esse objetivo, e seguindo a linha do PauloFreire para a alfabetização, o autor propõe a ideia de trabalharmos com o “objeto gerador”para proporcionar “reflexões sobre as tramas entre sujeito e objeto: perceber a vida dosobjetos, entender e sentir que os objetos expressam traços culturais, que os objetos sãocriadores e criaturas do ser humano”. Contudo, este trabalho deve partir do próprio cotidiano,“pois assim se estabelece o diálogo, o conhecimento do novo na experiência vivida: conversaentre o que se sabe e o que se vai saber – leitura dos objetos como ato de procurar novasleituras” (RAMOS, 2004, p. 32).Mais, as relações com os objetos vão muito além. As coisas e a suas materialidadesfazem parte do processo que nos torna o que somos. Daniel Miller aponta que a conclusãosurpreendente é que os objetos são importantes não porque sejam evidentes e fisicamenterestrinjam ou habilitem, mas justo o contrário. Muitas vezes, é precisamente porque nós nãoos vemos. Quanto menos tivermos consciência deles, mais conseguem determinar nossasexpectativas, estabelecendo o cenário e assegurando o comportamento apropriado, sem sesubmeter a questionamentos. Eles determinam o que ocorre à medida que estamosinconscientes da capacidade que têm de fazê-lo (MILLER, 2010, pp. 78- 79).Fazemos os objetos que nos fazem. Ao final, não há separação entre sujeitos e objetos,diz Miller. Mas, a chave disso é o processo de objetivação, pensar os objetos fora de nós atéesquecê-los. Perceber a materialidade das coisas, situá-las só na superfície, como signos,constitui só uma parte do problema. Como consequência, rapidamente esquecemos nossaprópria materialidade.705
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Alexandre Rodrigues de Souza, Jacqueline Sarmiento
interpretá-la não é só um atributo do professor. Desde aqui é possível fazer um convite para
a participação. É importante também gerar uma abertura nas formas de ensinar e aprender
história.
O objeto e os espaços como provocação
Como vincular as práticas de ensino de história com a materialidade e, finalmente,
com a nossa corporeidade? Quando pensamos na materialidade o primeiro que se apresenta
diante de nós é o mundo dos objetos, as coisas. Usamos objetos, os vestimos, pagamos por
eles, os trocamos, os jogamos no lixo. Estamos tão profundamente imersos numa trama de
objetos, que raramente refletimos acerca deles. Pensamos menos ainda sobre a própria
materialidade e nossas formas de interagir com objetos em contextos espaciais bem
diferenciados.
A impossibilidade de pensar os seres humanos fora dos seus contextos tem levado a
antropologia a dizer que a cultura é a natureza humana. A pensar-se que a cultura, segundo
Clifford Geertz, é uma teia de significados feita pelo homem, refletir acerca dos objetos (e
nossas relações com eles) requer entender a funcionalidade e significados sociais em
diferentes contextos (GEERTZ, 2008, p. 4). Geertz afirma que o pensamento humano é tanto
social como público e, neste caso, perpassa pelo ambiente natural, citando como exemplo o
pátio familiar, o mercado e cidade. Os símbolos significantes como gestos, desenhos e
objetos devem ser usados para impor um significado à experiência (GEERTZ, 2008, p. 33).
Se o significado é produto da relação entre objeto e contexto, este muda tanto quanto
faz a relação. Desde aqui se pode falar em uma biografia das coisas, de sua história através dos
câmbios que atravessa sua existência (poderíamos inclusive falar de objetos que têm
sucessivas e longas vidas) (APPADURAI, 1991). Quando os objetos ingressam ao museu
passam a outra fase da sua vida com a particularidade de serem afastados de seu contexto de
uso. Francisco Lopes Ramos aponta questões importantes sobre a relação entre objetos,
museus e história. Dentro do espaço do Museu, o objeto adquire novo conjunto de significados
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