História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Helena Doris de Almeida Barbosa, Natália Andrielly Trindade Alfaia(ICOMOS, 2011, p. 1 – tradução nossa). Nesse trecho, pode-se perceber que a atribuição dosentido do patrimônio é atrelada ao seu uso social.Os museus muitas vezes não nascem como tais, transformam-se por meio do processode musealização, que corresponde a um tipo de uso social do espaço, como é o caso doColégio de Santo Alexandre, em Belém. Este foi erguido como escola de instrução ecatequética para os indígenas, posteriormente transformou-se em seminário, depois sede doarcebispado, e hoje é o Museu de Arte Sacra de Belém, que será apresentado mais à frente.Ao partir-se dessa reflexão sobre o uso, como produto de vários encontros que buscavamdebater os temas patrimônio, identidade e cultura, tem-se em 1985 a Declaração do México.Fruto de um processo que evidencia as rápidas mudanças nas relações sociais, naciência, tecnologia, cultura e educação, a declaração buscou estreitar as relações entre asnações:Assim, ao expressar a sua esperança na convergência final dos objetivosculturais e espirituais da humanidade, a conferência concorda em que, no seusentido mais amplo, a cultura pode ser considerada atualmente como oconjunto dos traços distintivos espirituais, materiais, intelectuais e afetivos quecaracterizam uma sociedade e um grupo social (IPHAN, 1985, p. 1).A discussão sobre educação museal e os pontos destacados sobre cultura, tecnologia, caráterartístico e histórico presentes em ambos os documentos oficiais (carta e declaração) muitoinfluenciaram as políticas de preservação do patrimônio nacional e os novos debates sobreeducação. De acordo com Silveira e Bezerra (2007), há uma intercessão entre o campo dopatrimônio, com seus projetos de lei e diretrizes de preservação, e a educação museal, assimcomo há conexões entre os espaços musealizados e os diferentes grupos sociais – que têmacesso a esses espaços, cabe destacar, por meio da ponte criada pela educação museal.Nessa área, em seu artigo “Educação Patrimonial: Perspectivas e Dilemas”, Silveira eBezerra (2007) revelam os caminhos adotados no Brasil, enfatizando que, na virada para oséculo XXI, há um estreitamento nos debates sobre o campo museal, a educação e a difusãodas atividades: os projetos da Fundação Pró-Memória, o Guia Básico de Educação Patrimonial(1999), elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o620

A educação patrimonial no Museu de Arte Sacra de Belém (PA): realidade e perspectivas...Caderno da Política Nacional de Educação Museal, organizado pelo Instituto Brasileiro deMuseus (IBRAM) nos últimos dez anos, e encontros como os da Associação Brasileira deAntropologia (ABA) 6 , com um grupo de trabalho sobre patrimônio e cultura, foramimportantes para se pensar os dilemas nesse campo interdisciplinar.Os museus deixam de ser espaços passivos de acúmulos de objetos paraassumirem um papel importante na interpretação da cultura, da memória e naeducação dos indivíduos, no fortalecimento da cidadania, no respeito àdiversidade cultural e no incremento da qualidade de vida nacontemporaneidade (IBRAM, 2018, p. 13).Diante de todas as discussões apresentadas até o momento, pode-se constar que oscampos do patrimônio e da educação caminham lado a lado. Os patrimônios, sejam materiaisou imateriais, são importantes para a sociedade por serem espólios de um passado culturalreferente à formação identitária de um grupo: a educação patrimonial se torna o elo entreesses espólios e a sociedade.Todos os caminhos adotados até o momento mostram que o patrimônio é plural.Quando se fala em educação e processo de educação museal, não se está restringindo odiscurso às escolas de educação básica ou à educação formal. Como se depreende de Gohn(2005), afinal os museus valorizam o processo de aprendizagem traçando contornos quesuperam a sala de aula e criam sentimento da pertença, identidade, além de se aproximar doturismo.Sob essa perspectiva é construída a educação patrimonial, ou seja, por vários camposde saber. Meneses (2010) evidencia que nos museus se encontram as relações entre tempo,espaço e memória; onde consolidam-se identidades e diversas relações são traçadas,enquanto se estabelecem como campo de problematizações e pesquisa. Logo, entre teoria eprática, há intercessões que movimentam o longo caminho traçado pela educação museal,das cartas patrimoniais às discussões acadêmicas contemporâneas.6Desde 2004, a ABA fixou o grupo de trabalho sobre Patrimônio Cultural, que busca reunir acomunidade acadêmica para discutir os problemas contemporâneos relacionados à antropologia, àcultura e ao patrimônio.621

A educação patrimonial no Museu de Arte Sacra de Belém (PA): realidade e perspectivas...

Caderno da Política Nacional de Educação Museal, organizado pelo Instituto Brasileiro de

Museus (IBRAM) nos últimos dez anos, e encontros como os da Associação Brasileira de

Antropologia (ABA) 6 , com um grupo de trabalho sobre patrimônio e cultura, foram

importantes para se pensar os dilemas nesse campo interdisciplinar.

Os museus deixam de ser espaços passivos de acúmulos de objetos para

assumirem um papel importante na interpretação da cultura, da memória e na

educação dos indivíduos, no fortalecimento da cidadania, no respeito à

diversidade cultural e no incremento da qualidade de vida na

contemporaneidade (IBRAM, 2018, p. 13).

Diante de todas as discussões apresentadas até o momento, pode-se constar que os

campos do patrimônio e da educação caminham lado a lado. Os patrimônios, sejam materiais

ou imateriais, são importantes para a sociedade por serem espólios de um passado cultural

referente à formação identitária de um grupo: a educação patrimonial se torna o elo entre

esses espólios e a sociedade.

Todos os caminhos adotados até o momento mostram que o patrimônio é plural.

Quando se fala em educação e processo de educação museal, não se está restringindo o

discurso às escolas de educação básica ou à educação formal. Como se depreende de Gohn

(2005), afinal os museus valorizam o processo de aprendizagem traçando contornos que

superam a sala de aula e criam sentimento da pertença, identidade, além de se aproximar do

turismo.

Sob essa perspectiva é construída a educação patrimonial, ou seja, por vários campos

de saber. Meneses (2010) evidencia que nos museus se encontram as relações entre tempo,

espaço e memória; onde consolidam-se identidades e diversas relações são traçadas,

enquanto se estabelecem como campo de problematizações e pesquisa. Logo, entre teoria e

prática, há intercessões que movimentam o longo caminho traçado pela educação museal,

das cartas patrimoniais às discussões acadêmicas contemporâneas.

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Desde 2004, a ABA fixou o grupo de trabalho sobre Patrimônio Cultural, que busca reunir a

comunidade acadêmica para discutir os problemas contemporâneos relacionados à antropologia, à

cultura e ao patrimônio.

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