História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Monica Piccolo, Priscilla PiccoloOs últimos vinte anos foram marcados por uma reversão deste quadro, ou melhor,pela reabilitação desta História Contemporânea enquanto história científica e, porconsequência, por transformações no que diz respeito às fontes históricas e ao lugar dohistoriador no processo de construção do conhecimento histórico. Este movimento teve comolocus privilegiado não as centenárias instituições voltadas para a fabricação e transmissão dosaber histórico, mas sim as chamadas instituições paralelas, tais como o Instituto de EstudosPolíticos e, principalmente, o Instituto de História do Tempo Presente. Este processo dereabilitação, entretanto, foi muito mais além de uma simples recuperação da importância edo lugar da História Contemporânea. Ocorreu uma transformação do próprio entendimentodaquilo a que se está chamando como contemporâneo; de sua história e de sua historiografia.Esta transformação tem como eixo central, a mundialização da noção de historicidade, ademocratização e a dilatação da história que acabaram por inserir no seu campo de análisesociedades que até então tiveram quase que aleijadas deste processo. Esta massmediatisaçãoacabou por conferir à atualidade uma existência própria transformando opróprio desenvolvimento da história, sua percepção e mesmo sua natureza tendo comoconsequência um profundo redimensionamento da História Contemporânea que passa,então, a debruçar-se sobre um presente histórico que está repleto de uma especificidade quenão comporta somente suas exigências próprias mas está voltado para aprofundar a maneirade fazer história dos períodos recentes. A História Contemporânea, desta forma, passou dacondição de simples apêndice para o comando da disciplina histórica (NORA, 1992, p. 51).Embora diretamente vinculada à reabilitação científica da História Contemporânea e aum entendimento outro acerca das relações entre passado e presente – onde a caracterizaçãodaquele como imóvel, estático, pronto e acabado, encontrando-se petrificado somente àespera do momento em que será ressuscitado, trazido à vida pela sapiência e erudição dohistoriador foi em grande parte abandonada por aqueles que acreditam numa relação dereciprocidade entre passado/presente/futuro –, outros pontos polêmicos marcam odesenvolvimento de uma História do Tempo Presente. Questões como: o que é entendido edefinido como sendo tempo presente? O que é de fundamental importância para demarcação582

Patrimônios fantasmas no Maranhão: embates em torno da memória e da históriade seu início, isto é, de seus limites cronológicos? Qual o referencial para esta determinaçãocronológica? Elementos históricos marcantes na trajetória coletiva do grupo do qual ohistoriador faz parte ou encontra-se debruçado, ou, de uma outra forma, elementosmarcantes na trajetória individual do próprio historiador? Teria esta História do TempoPresente categorias específicas que lhe confeririam um estatuto singular no campo daprodução do conhecimento histórico?A primeira observação que se faz necessária sobre esta demarcação cronológica doslimites temporais desta História do Tempo Presente é sua extrema relatividade. Comoexemplo desta relatividade, podemos citar os posicionamentos de Serge Berstein, DaniéleVoldman e Eric Hobsbawm. Enquanto aqueles tomam como referência o fim da II GuerraMundial e a inacessibilidade dos arquivos públicos (BERSTEIN, 1992, p. 53), respectivamente,o historiador inglês toma como marco inicial da História do Tempo Presente o fim da guerrada Argélia (HOBSBAWM, 1988, p. 243). Esta relatividade, então, acaba por proporcionarmecanismos distintos de delimitação cronológica deste tempo presente que podem estar ounão ligados à própria história vivida pelo historiador (PASSARINI, 1992, p. 59).O segundo aspecto a ser destacado refere-se às categorias de inteligibilidadetemporais que seriam específicas da História do Tempo Presente. Ou, em outros termos, oque garantiria à História do Tempo Presente um estatuto específico dentro do campohistórico? Estas categorias passam, fundamentalmente, por um novo entendimento e, porconsequência, uma nova abordagem em torno de questões que já se encontravam presenteno métier historiográfico, mas que sofreram um profundo processo de exclusão e desubstituição pelas análises das longas durações, das estruturas e pelo predomínio da esferado econômico. Estas categorias específicas teriam, então, como principais referências: oresgate de análises voltadas para uma valorização da noção de geração; o retorno da noçãode acontecimento; o desenvolvimento de uma história crítica da memória; a importânciaconferida à história cultural e o desenvolvimento de uma abordagem que privilegie o retornoda História Política na qual a esfera do político assume autonomia e dimensão próprias(NORA, 1992, p. 51).583

Monica Piccolo, Priscilla Piccolo

Os últimos vinte anos foram marcados por uma reversão deste quadro, ou melhor,

pela reabilitação desta História Contemporânea enquanto história científica e, por

consequência, por transformações no que diz respeito às fontes históricas e ao lugar do

historiador no processo de construção do conhecimento histórico. Este movimento teve como

locus privilegiado não as centenárias instituições voltadas para a fabricação e transmissão do

saber histórico, mas sim as chamadas instituições paralelas, tais como o Instituto de Estudos

Políticos e, principalmente, o Instituto de História do Tempo Presente. Este processo de

reabilitação, entretanto, foi muito mais além de uma simples recuperação da importância e

do lugar da História Contemporânea. Ocorreu uma transformação do próprio entendimento

daquilo a que se está chamando como contemporâneo; de sua história e de sua historiografia.

Esta transformação tem como eixo central, a mundialização da noção de historicidade, a

democratização e a dilatação da história que acabaram por inserir no seu campo de análise

sociedades que até então tiveram quase que aleijadas deste processo. Esta massmediatisação

acabou por conferir à atualidade uma existência própria transformando o

próprio desenvolvimento da história, sua percepção e mesmo sua natureza tendo como

consequência um profundo redimensionamento da História Contemporânea que passa,

então, a debruçar-se sobre um presente histórico que está repleto de uma especificidade que

não comporta somente suas exigências próprias mas está voltado para aprofundar a maneira

de fazer história dos períodos recentes. A História Contemporânea, desta forma, passou da

condição de simples apêndice para o comando da disciplina histórica (NORA, 1992, p. 51).

Embora diretamente vinculada à reabilitação científica da História Contemporânea e a

um entendimento outro acerca das relações entre passado e presente – onde a caracterização

daquele como imóvel, estático, pronto e acabado, encontrando-se petrificado somente à

espera do momento em que será ressuscitado, trazido à vida pela sapiência e erudição do

historiador foi em grande parte abandonada por aqueles que acreditam numa relação de

reciprocidade entre passado/presente/futuro –, outros pontos polêmicos marcam o

desenvolvimento de uma História do Tempo Presente. Questões como: o que é entendido e

definido como sendo tempo presente? O que é de fundamental importância para demarcação

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