História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias
Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.
Júlia Constança Pereira CamêloNo início do século XX, a história registra que, para se afirmar como regime político, aRepública Brasileira procurou construir uma identidade nacional, pautada nas referênciasmodernas, sem deixar de conceber o legado colonial como herança do europeu.O Maranhão lançou mão do patrimônio que remete aos intelectuais maranhenses, e omomento de apogeu econômico representado nos casarões coloniais, para se apresentartambém, como lugar onde a influência portuguesa e francesa, foi a tônica na sociedadeludovicense (o natural da ilha de São Luís, vem de Ludovico (do germânico Hlodoviko) quesignifica ilustre, afamado, que originou em francês Louis, em português Luís, com oacréscimo do “ënse” chegou-se ao ludovicense), do século XIX. Época em que o francês eraensinado nas escolas, e falado nos saraus promovidos pelas elites.Com o processo de tombamento, ocorrido na segunda metade do século XX, o períodocolonial foi visto não só como símbolo de riqueza, mas também como uma marca do que aselites conseguiram produzir. Na década de 1970 em diante, os jornais trouxeram essareferência como um valor cultural das elites a ser preservado, ressignificando seu valor.Assim, mesmo que o assunto seja as finanças, os prédios desabando, o colonial vaiser ressaltado para lembrar da necessidade de recuperação. Por isso, entendemos que essediscurso influenciou as elites no sentido da valorização, principalmente, do patrimôniomaterial e da memória histórica da cidade.As matérias dos jornais O Imparcial e O Estado do Maranhão da década de 1970 a 2000trazem inúmeras matérias que enfatizam essa identidade ludovicense com uma riquezamaterial e cultural, representada nos casarões e em intelectuais como Aluísio Azevedo, quefizeram parte da fundação da Academia Brasileira de Letras. Neste artigo, concebemos essaênfase dos jornais como uma forma de Educação Patrimonial das elites, uma vez que a maiorparte dos leitores pertencem a esse grupo social.Trata-se de uma Educação Patrimonial que enfatiza a identidade de uma sociedadeludovicense educada na Europa, representada pelos casarões que também fazem parte daidentidade brasileira, pois inseriu na primeira República a sociedade que representou aintelectualidade erudita chamada de “Atenas Brasileira”.556
Patrimônio Ludovicense: a narrativa dos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial enquanto...A museóloga Maria de Lurdes Parreiras Horta (1999), introdutora da metodologia daEducação Patrimonial, no Brasil, define a metodologia como um instrumento de“alfabetização cultural”, que leva o indivíduo a ter uma melhor compreensão sociocultural domundo que o rodeia. Além disso, promove um processo de aprendizagem, no qual opatrimônio cultural é reconhecido como fonte primária de conhecimento individual e coletivo,uma vez que sua principal função é construir uma relação de conhecimento, pautada navalorização dos bens e herança cultural por parte de adultos e crianças.Maria Horta estrutura o processo de Educação Patrimonial em quatro etapas: aobservação, o registro, a exploração e a apropriação do bem cultural. A ideia é identificar oobjeto, sua função e significado; registrar o conhecimento percebido por meio doaprofundamento da observação; desenvolver a análise crítica, após consulta a outras fontes;e a apropriação do conhecimento.Percebemos os jornais a cumprir esse papel de Educação Patrimonial, quandoobservam os casarões como elemento de uma identidade da elite, cujos leitores são seusherdeiros. Eles carregam uma memória de apogeu econômico, que está vinculado à formaçãoda nacionalidade brasileira. A atuação ou não atuação do poder público na preservaçãoregistram os desabamentos e apelam para a restauração que, além de preservar a memória,promove a apropriação dessa identidade que se reelabora na perspectiva de um novoressurgir econômico com a possibilidade do turismo.Os jornais são importantes documentos que possuem discursos diversificados sobrea temática abordada. Porém, não podemos analisar somente a narrativa dos artigos, mastambém a ideologia que cada discurso quer repassar. Para Foucault, a formação discursiva évista como um conjunto de enunciados que não se reduzem a objetos linguísticos, tal comoas proposições, atos de frases ou fala, mas submetidos a uma mesma regularidade edispersão na forma de uma ideologia, ciência, teoria, etc. (FOUCAULT, 1996). Segundo oreferido autor, a linguagem não pode ser limitada às relações entre palavras e as coisas,sendo necessário atentar para o próprio discurso. No bojo das matérias que encontramos557
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Patrimônio Ludovicense: a narrativa dos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial enquanto...
A museóloga Maria de Lurdes Parreiras Horta (1999), introdutora da metodologia da
Educação Patrimonial, no Brasil, define a metodologia como um instrumento de
“alfabetização cultural”, que leva o indivíduo a ter uma melhor compreensão sociocultural do
mundo que o rodeia. Além disso, promove um processo de aprendizagem, no qual o
patrimônio cultural é reconhecido como fonte primária de conhecimento individual e coletivo,
uma vez que sua principal função é construir uma relação de conhecimento, pautada na
valorização dos bens e herança cultural por parte de adultos e crianças.
Maria Horta estrutura o processo de Educação Patrimonial em quatro etapas: a
observação, o registro, a exploração e a apropriação do bem cultural. A ideia é identificar o
objeto, sua função e significado; registrar o conhecimento percebido por meio do
aprofundamento da observação; desenvolver a análise crítica, após consulta a outras fontes;
e a apropriação do conhecimento.
Percebemos os jornais a cumprir esse papel de Educação Patrimonial, quando
observam os casarões como elemento de uma identidade da elite, cujos leitores são seus
herdeiros. Eles carregam uma memória de apogeu econômico, que está vinculado à formação
da nacionalidade brasileira. A atuação ou não atuação do poder público na preservação
registram os desabamentos e apelam para a restauração que, além de preservar a memória,
promove a apropriação dessa identidade que se reelabora na perspectiva de um novo
ressurgir econômico com a possibilidade do turismo.
Os jornais são importantes documentos que possuem discursos diversificados sobre
a temática abordada. Porém, não podemos analisar somente a narrativa dos artigos, mas
também a ideologia que cada discurso quer repassar. Para Foucault, a formação discursiva é
vista como um conjunto de enunciados que não se reduzem a objetos linguísticos, tal como
as proposições, atos de frases ou fala, mas submetidos a uma mesma regularidade e
dispersão na forma de uma ideologia, ciência, teoria, etc. (FOUCAULT, 1996). Segundo o
referido autor, a linguagem não pode ser limitada às relações entre palavras e as coisas,
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