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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Ana Cristina Rocha Silva

dos sítios. Assim, os objetos do passado estão imersos em um conjunto de fenômenos que

regulam a relação humana junto ao meio ambiente.

Indo além, relatos como os do senhor Baladeira e de Maria Divina manifestam que, na

vida cotidiana das comunidades, os vestígios do passado narram as trajetórias da população

local. Associadas à prática do agroextrativismo, essas trajetórias contam sobre famílias

inteiras que, ao lutar pela sobrevivência junto à floresta, se deparam com sítios arqueológicos

e, por meio deles, constroem suas narrativas e memórias de vida. Em face dessas

especificidades e com base em Julião (2006), a cultura material possui ligações intrínsecas

com aspectos intangíveis, uma vez que seus sentidos ultrapassam o universo palpável e

instruem sobre a produção e reprodução social das sociedades.

A despeito de todas essas conexões, as relações entre as pessoas e os sítios

arqueológicos são deslegitimadas por uma prática preservacionista centralizada na ação do

Estado e nos especialistas do patrimônio. No caso dos bens arqueológicos, tais especialistas

são notadamente representados por arqueólogos, profissionais outorgados pelo Estado para

o manejo dos bens em tela. Com base nos ensinamentos de Smith (2011), avalia-se que, ao

longo dos anos, por reduzir-se à realização de prospecções e resgates, a gestão patrimonial

executada na região do Maracá tem limitado a herança ao físico, a base material de objetos

que operam como um bilhete de identidade e conferem a esta última um sentido universal.

Ao considerar materiais arqueológicos esteticamente importantes e não renováveis,

essa gestão tem reduzido as comunidades locais à condição de meras expectadoras da retirada

de artefatos arqueológicos, sob a justificativa de proteção e de preservação da herança cultural.

Nessa perspectiva, conforme instrui Smith (2011), a herança é tida como algo encontrado, cujo

valor inato e essência falarão para as gerações presentes e futuras e garantirão à estas a

compreensão de seu lugar no mundo. De tal modo, a herança ofertada pelo patrimônio cultural

é a formação de um senso comum e compartilhado de identidade humana.

Denominado por Smith (2011, p. 42-43) de “[...] discurso autorizado de patrimônio

cultural [...]”, esse processo aprisiona a criatividade humana, ao validar e defender certas

narrativas em detrimento de outras. Por conta disso e parafraseando Smith (2011), há de se

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