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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Patrimônio arqueológico e desenvolvimento no PAE Maracá-AP: contribuições...

pode ser uma morada deles [...]. A gente passou caçando lá, tava no inverno e

a gente tava pra lá tirando castanha, aí o meu filho disse: “ - papai, espia aquele

pedaço de barro igual uma tigela”. Aí eu parei lá com ele e nós fomo olhar. É

um lugar onde fizeram uma derrubada grande assim e criou só um capoeirão,

uma capoeira baixa lá. Só tem uma árvore grande lá, uma samaumeira, mas

ela é uma monstra duma árvore. Aí a gente foi ver [...] lá tava espalhado dessas

vasilha, só os pedaço dela. Nós não encontramo nenhuma inteira [...] mas tinha

uns pedaço assim com a alça das vasilha que eles faziam. Era tipo uma xícara

assim, botava alça com uns fundo dessa altura assim. Umas tinham só as alça,

outras só o fundo e umas já tavam toda quebrada. Nós encontramo tudo isso

lá. Tem muito isso pra lá, eu andando com esses menino, a gente sempre

achava. Eles eram tudo pequeno ainda e já andavam comigo pra tirar castanha

(silêncio) [...]. Aí pra aguentar o tempo no mato, a gente saía pra caçar e eu

levava eles comigo. Todos eles já sabem se virar no mato, cresceram assim.

Dava o tempo da castanha e ia nós tudinho, só ficava a mulher aqui na vila [...]

(SILVA, 2019, entrevista).

Inicialmente, a escuta do relato de Baladeira sinalizava somente a existência de sítios

pré-coloniais nos castanhais do Alto Maracá. Outros interlocutores já haviam feito relatos de

achados fortuitos nessa região e, até ali, isso não era novidade. No entanto, em determinado

momento, ao falar dos filhos pequenos o acompanhando no trabalho extrativista, a voz de

Baladeira embargou e, por um breve momento, ele ficou em silêncio. Naquele instante, o

“[...] aprender a perceber [...]” de Restrepo (2016, p. 20) informou muito mais do que a

ocorrência de sítios.

O rápido momento de emoção do interlocutor manifestou a trajetória de sua família.

Junto com a lembrança daquelas tigelas de barro, ele lembrou da introdução dos filhos

pequenos no trabalho extrativista, das caçadas por alimento, de uma vida inteira junto à

floresta. Como bem ensina Bezerra (2017), mais do que o passado histórico e/ou

arqueológico, aquelas vasilhas de barro falavam da vida vivida, da memória dos lugares, por

meio de quem habita esses lugares.

Pelo que se expõe, na região do Maracá, não é o tempo histórico que ocupa as

narrativas envoltas aos bens arqueológicos, é o tempo memorial e sua ligação com as

paisagens. Como informa o relato de Baladeira, essas paisagens são vividas e seus usos

divergem dos significados manipulados pela arqueologia e das regras de manejo do

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