História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias
Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus. Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.
Ana Cristina Rocha Silvaarqueológicos consiste em aceitar os inúmeros sentidos que a materialidade arqueológicaadquire nas vidas de grupos sociais. Na Amazônia, trabalhos fundados nessa perspectiva têmsurgido na última década e possuem na produção de Bezerra (2014; 2017), Cabral (2014), Leite(2014), Moraes e Bezerra (2012), Schaan e Marques (2012), Silva e Garcia (2015) exemplosrelevantes de preocupação com a multivocalidade da cultura material e com papel social daarqueologia junto a coletivos humanos.É consenso entre os autores evidenciados que, na região, as interpretações a respeitoda cultura material deixada por povos pretéritos são variadíssimas. Assim, elas revelamcontextos em que as marcas do passado no meio ambiente são utilizadas para administrar asrelações de grupos sociais com o mundo que os cerca. Em muitos casos, essas relaçõesapontam para epistemologias distintas daquelas irradiadas pela ciência moderna e, por isso,se chocam com os cânones preservacionistas.No Maracá, isso não é diferente. Conforme aponta o estudo de Leite (2014), nesseterritório existe um conjunto de narrativas fantásticas envolvendo encantados, visagens eassombrações. Dentre essas narrativas, destaca-se a que envolve Joana Alcântara e o sítioBuracão, onde há pinturas rupestres. Joana Alcântara é umas das personagens míticas maissignificativas de toda a área e, na história oral local, ela é apresentada como uma benzedeirapoderosa que tinha o poder de fazer o mal a quem lhe contrariasse.Por meio de Leite (2014) e da pesquisa de campo nas comunidades, se sabe que, noimaginário das comunidades, o Buracão era o local de encante de Joana Alcântara e, após oseu desaparecimento, ela teria ido habitar nele, em uma forma não humana. Histórias comoessa denotam a diversidade dos sentidos da materialidade arqueológica na vida da populaçãolocal. Outrossim, elas indicam que as relações entre as pessoas do lugar e os locais deocorrência arqueológica rompem com a racionalidade científica e apresentam outrasepistemologias.Para além disso, a pesquisa realizada no PAE Maracá revelou que, nesse território, aolongo dos anos, a reprodução familiar, a distribuição espacial das comunidades, os hábitosalimentares, a economia e até o funcionamento de instituições são influenciados pelo510
Patrimônio arqueológico e desenvolvimento no PAE Maracá-AP: contribuições...extrativismo da castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa). A extração desse produtoflorestal marca o cotidiano dessa área e de todo o sul do Amapá e ainda manifesta modosespecíficos de reprodução cultural e organização social (SILVA, 2019, entrevista; SIMONIAN,2001). Adiante, na Imagem 3 destaca-se o pequeno Dienderson dos Anjos Souza, de noveanos. Morador da comunidade do Maruim, no Alto Maracá, ele mostra o jamanxim 6 utilizadona extração da castanha do ano de 2019.No Maracá, desde cedo, as crianças acompanham os pais na coleta da castanha,ocorrida entre os meses de janeiro e maio. Em geral, a produção delas é vendidaindividualmente, o que lhes permite acesso à renda. Por sua vez, na Imagem 4, se vê umacasa de compra e estocagem da castanha. A casa está situada na vila Maracá, comunidadesituada no médio Maracá, onde se concentra a comercialização do produto.Imagens 3-4 - Dienderson dos Anjos Souza, na margem do rio Maracá, à altura dacomunidade do Maruim; casa de compra e estocagem da castanha da amazônia(Bertholletia excelsa), vila MaracáFoto: Ana Cristina Rocha Silva, 2019.6Cesto que se leva às costas, preso à testa e/ou aos ombros por uma alça. Nele, os extrativistastransportam a castanha e outros produtos florestais.511
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Ana Cristina Rocha Silva
arqueológicos consiste em aceitar os inúmeros sentidos que a materialidade arqueológica
adquire nas vidas de grupos sociais. Na Amazônia, trabalhos fundados nessa perspectiva têm
surgido na última década e possuem na produção de Bezerra (2014; 2017), Cabral (2014), Leite
(2014), Moraes e Bezerra (2012), Schaan e Marques (2012), Silva e Garcia (2015) exemplos
relevantes de preocupação com a multivocalidade da cultura material e com papel social da
arqueologia junto a coletivos humanos.
É consenso entre os autores evidenciados que, na região, as interpretações a respeito
da cultura material deixada por povos pretéritos são variadíssimas. Assim, elas revelam
contextos em que as marcas do passado no meio ambiente são utilizadas para administrar as
relações de grupos sociais com o mundo que os cerca. Em muitos casos, essas relações
apontam para epistemologias distintas daquelas irradiadas pela ciência moderna e, por isso,
se chocam com os cânones preservacionistas.
No Maracá, isso não é diferente. Conforme aponta o estudo de Leite (2014), nesse
território existe um conjunto de narrativas fantásticas envolvendo encantados, visagens e
assombrações. Dentre essas narrativas, destaca-se a que envolve Joana Alcântara e o sítio
Buracão, onde há pinturas rupestres. Joana Alcântara é umas das personagens míticas mais
significativas de toda a área e, na história oral local, ela é apresentada como uma benzedeira
poderosa que tinha o poder de fazer o mal a quem lhe contrariasse.
Por meio de Leite (2014) e da pesquisa de campo nas comunidades, se sabe que, no
imaginário das comunidades, o Buracão era o local de encante de Joana Alcântara e, após o
seu desaparecimento, ela teria ido habitar nele, em uma forma não humana. Histórias como
essa denotam a diversidade dos sentidos da materialidade arqueológica na vida da população
local. Outrossim, elas indicam que as relações entre as pessoas do lugar e os locais de
ocorrência arqueológica rompem com a racionalidade científica e apresentam outras
epistemologias.
Para além disso, a pesquisa realizada no PAE Maracá revelou que, nesse território, ao
longo dos anos, a reprodução familiar, a distribuição espacial das comunidades, os hábitos
alimentares, a economia e até o funcionamento de instituições são influenciados pelo
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