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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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“Eu não sei se morou índio, arábio ou negro”: os vestígios arqueológicos e narrativas...

estabelecerem nas proximidades das missões jesuíticas, que foram implantadas no litoral da

Guiana, Oiapoque e Cunani (LE ROUX, 2013; TASSINARI, 2003).

Nesta área de fronteira definida pelo rio Oiapoque, quando do acordo firmado pelo

Tratado de Utrecht, em 1713, não representava nenhum obstáculo para a circulação de

pessoas, pois colonos e missionários atravessavam constantemente a fronteira (IBÁÑEZ-

BONILLO; ARENZ, 2019; QUEIROZ; GOMES, 2002; TASSINARI, 2003) e realizavam contatos e

trocas de produtos com os grupos indígenas do Cabo Norte (ACEVEDO MARIN; GOMES,

2003; IBÁÑEZ-BONILLO; ARENZ, 2019; LE ROUX, 2013; TASSINARI, 2003).

As constantes tensões e conflitos pelo território, levaram as autoridades portuguesas a

colocarem em prática o projeto de colonização de São José de Macapá em, 1751, e Mazagão,

em 1765 (ACEVEDO MARIN, 1999). Assim, as terras do Cabo Norte foram povoadas pelo

translado de famílias de colonos vindos das ilhas portuguesas e seus escravos africanos (LUNA,

2011). No entanto, as doenças, mortes e requisições de cativos dos colonos para os trabalhos

da construção da Fortaleza de São José de Macapá e de casas na Vila de Mazagão, levaram

alguns colonos e súditos da Coroa a adotarem fugas semelhantes às praticadas por indígenas

e escravos (ACEVEDO MARIN, 1999; ACEVEDO MARIN; GOMES, 2003; LUNA, 2011).

No início do século XIX, aflorou com agravamento as disputas de território entre

portugueses e franceses. Neste contexto, a região passou a ser zona de litígio e área

denominada de contestado franco-brasileiro (faixa de terra que compreenderia do rio

Araguari ao rio Oiapoque). Disputa política que permitiu a produção de um “território de

liberdade”, posto que ocorreu um movimento interno de gentes e ideias que não seguiam as

lógicas impostas pelo Estado francês ou brasileiro (ACEVEDO MARIN, 1999; ACEVEDO

MARIN; GOMES, 2003; LUNA, 2011; QUEIROZ; GOMES, 2002; GOMES, 1999), mas sim, das

próprias pessoas que ali viviam ou transitavam com interesses comerciais.

Nesta região Contestada se viu nascer o estabelecimento de mocambos e quilombos,

quase todos de composição bastante diversificadas, que agregaram indígenas, soldados

desertores, cativos de plantações, vaqueiros, pequenos negociantes, deportados, paraenses

fugitivos da cabanagem, garimpeiros; bem como grupos de comerciantes das Antilhas e

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