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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Arqueologia da escravidão: artefatos de torturas da Fazenda Serra Negra

europeia com também usavam suas ideias e técnicas que trouxeram da África, como no caso

dos estudos de Farnsworth (apud FERREIRA, 2009) 3 realizados no Caribe, por onde os

escravos reproduziam em habitações em fazendas símbolos ou marcas culturais.

A arquitetura e estrutura de muitas fazendas foram construídas com base na força dos

cativos. A submissão a esses trabalhos de construção, tendo que carregar pesos por horas,

ou dias, em longas distâncias, pode ser entendida como uma forma de suplício. Nas cidades

do Piauí, muitas casas ainda preservam um telhado antigo, com telhas produzidas à custa do

trabalho de negros escravizados. Elas eram marcadas, antes de o barro endurecer, com letras

e desenhos que identificavam o autor. Falci (1995) afirma que os escravos oleiros fabricavam

telhas, tijolos cozidos ao Sol e de assentamento no chão, potes e cântaros para depositar

água.

Convém assinalar que os escravos que cometiam crimes eram condenados à prisão

de galés, à prisão com trabalho; eram usados em obras públicas, prédios, ruas e outras obras

antigas edificadas pelos trabalhadores escravizados.

O trabalho forçado e penúrias geravam desgosto e reações negativas. De acordo com

Orser e Funari (2004), as resistências diárias nem sempre deixavam traços no material. Danos

ao maquinário, às ferramentas, destruição de plantações ou mutilação de animais, fingir

ignorância ou desconhecimento dissimulados, a automutilação e o suicídio, que não são

visíveis arqueologicamente, também fazem parte do universo simbólico e imaterial da

escravidão. Mas a materialidade do suplício pode também ser identificada, no fruto do

trabalho dos cativos, como o sofrimento que também não é visível, ao olharmos para as

construções erguidas em condições de trabalho lastimoso.

Nas construções, alguns homens iam para as matas cortar a madeira necessária,

enquanto outros retiravam e transportavam pedras. Lima (2005) afirma que muitos

3

Ferreira (2009) cita o trabalho realizado por Farnsworth (1999; 2001) no Caribe em habitações de

pessoas cativas. Nesse estudo notou-se que os cativos negociavam essas habitações, e mesmo com o

controle dos fazendeiros sobre o estilo das construções, os escravizados impunham nestas suas

marcas culturais (FARNSWORTH 1999; 2001 apud FERREIRA, 2009, p. 271).

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