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História, Arqueologia e Educação Museal: Patrimônio e Memórias

Organizadores: José Petrucio de Farias Junior / Ligia Terezinha Lopes Simonian / Ana Cristina Rocha Silva / Yuri Givago Alhadef Sampaio Mateus.

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Arqueologia da escravidão: artefatos de torturas da Fazenda Serra Negra

nem sequer existiam cadeias adequadas, muito menos pessoas qualificadas para fiscalizar o

tratamento dado aos escravos.

O castigo era uma maneira de buscar uma vingança pessoal e pública, pois a lei não

só tende a defender a força físio-política soberana, mas também a vingá-la. Foucault (1987)

afirma que o castigo em público era como um cerimonial para restabelecer a soberania

lesada, restaurar o equilíbrio; além de fazer funcionar a dissimetria entre o súdito que ousou

violar a lei soberana. Deveria ser grandioso, dramático e causar medo e pavor.

Além da ideologia dos suplícios, havia a tecnologia da dor para submeter o sujeito à

escravidão, com uma variedade de instrumentos para capturar, supliciar, como também

estruturas para prender escravos. Mas o suplício não acontecia somente com o uso dessa

tecnologia, pois o fato de estarem cativos e em péssimas condições de alimentação, higiene,

vestimentas e alojamentos se caracterizava como tortura. Conforme Lima (2005), em geral as

senzalas no Piauí eram casas muito pobres e abrigavam escravos com parentescos. Eram

ranchos de paredes e cobertura de palha, com um vão que servia de porta, não havia janelas

e em nada protegiam durante o período chuvoso.

Os cativos andavam quase nus, no caso dos escravos da nação, as autoridades

relutavam em fornecer as vestimentas. Lima (2005) afirma que os administradores das

fazendas da nação sonegavam o algodão ou tecidos para as roupas, e os vendiam para

comerciantes, quando, na verdade, os escravos deveriam recebê-los de graça. Os homens

escravos raramente usavam camisas, as mulheres usavam saias e blusas desgastadas; e as

crianças ceroulas ou calças. Os escravos sempre comiam mal, quase sempre era carne de

gado e farinha de mandioca.

A Secretaria de Estado de Cultura do Piauí, por meio da Coordenação de Registro e

Conservação (2018), ressalta que em 1730 os jesuítas fundaram a Missão Aroazes. E, por volta

de 1740, teria surgido a Fazenda Serra Negra. Conforme Brandão e Miranda (2012), essa

fazenda escravagista é fonte de muitas lendas e mitos na região, principalmente por conta de

seu mais famoso proprietário Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacelar, um pecuarista bemsucedido

e notório na sociedade e história do Piauí, e visto popularmente como representante

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